Alegre ímpeto.

Havia um passarinho, daqueles que a gente só vê às seis da tarde. Que exulta um cântico precioso, mas logo após se cansa. Em suas terras conhecidas adorava cantar, voar e descansar sobre a sombra de seu carvalho favorito. Era acostumado a beber de sua própria água, um riacho que ele considerava seu. Água barrenta, de gosto bebível, mas não degustável. Descia de seu carvalho favorito às seis e aproveitava a grande sombra. Aproveitava o seu riacho, que apesar de sujo, era o único que conhecia. Era feliz no seu nicho.

Certo dia, porém, foi tomado de grande ímpeto, de algo que não conhecia, que seu coração nunca sentiu, e foi atrás da conclusão desse ímpeto. Voou e pousou sobre um monte cinza: nada encontrou lá. Solo seco, sem árvores altas o suficiente para fazer seu canto ecoar, sem água para matar a sua sede. Continuou a voar e desta vez encontrou um monte roxo, devido a certas flores. Ainda não escolheu este, apesar de ter tudo que lhe era necessário, inclusive água, e dessa vez: limpa. Continuava a voar sem muito rumo, apenas direcionado por sua vontade, e desta vez encontrou um monte amarelo, devido a grandes girassóis. Esse era perfeito para ele. Não por ser amarelo, mas por sentir que este falava com seu coração. Se notarmos bem, era praticamente idêntico ao segundo monte, mas dessa vez algo lhe pegou. Seu ímpeto foi correspondido no monte e sua pequena alma felicitava a si mesma cada vez mais durante o dia que se passava. Lá ele encontrou a desconhecida água limpa, carvalhos desta vez gigantes para escolher quaisquer quisesse, com sombras ainda maiores do que eles. Regozijo tomava conta de seu espírito naquele momento, breve, mas contente.

Mas esquecemos de algo. O nosso passarinho se cansava. Ninguém sabe como ele conseguiu voar tanto em três montes diferentes, para tão longe de casa. O que sabemos é que não era possível. Quando finalmente deixara de cantar em seu primeiro dia feliz, foi para a sombra do carvalho escolhido para descansar e beber água. Desfaleceu sobre a água assim que respirou de alivio pelo descanso. Tamanha a sua fadiga. Ali morreu o nosso pequeno passarinho, de alma impetuosa, acreditando que o impossível fosse, pelo menos para ele, se tornar possível.

Fim

para nós.

Um grande incêndio atingiu o monte amarelo consumindo todos os carvalhos, sujando a água e acabando com a sombra, e aquele monte que era amarelo devido aos grandes girassóis, se tornou cinza pela destruição. Mas algo improvável aconteceu. O que tínhamos chamado de pequena alma reviveu. Improvável. Impossível. Mas aconteceu. O nosso feliz passarinho ressurgiu no meio daquele ambiente triste e percebeu o que o belo monte amarelo se tornou. Um monte cinza. E a cor perdida pelo monte impregnou no passarinho e ele se tornou então amarelo. A alma que chamávamos de pequena se mostrou grande. Grande ele era desde o início. Só nos faltou notar. Conhecera, naquelas coisas desconhecidas, os fins das mesmas. E compreendera que a profundidade de sua morte existia para comprovar a grandeza da sua aparição. O passarinho amarelo se deu bem, e sem cansaço então, habitou nos diversos montes que ainda viriam.

Fim verdadeiro.