"TRAPALHADAS" ROMANAS

"TRAPALHADAS" ROMANAS

Pilatos acordou chateado... uma comitiva do imperador Tibério lhe trouxera ordem explícita: "tirar os escudos com sua face das portas do Palácio de Herodes Antipas -- onde residia, como governador da Judéia, porque isso afrontava as leis de Moisés -- e parar de infernizar o povo da região". A coisa ficara séria ! Aqueles desgraçados, agindo pelas costas dele, tinham ido em caravana até Roma só para "fofocar" com seu nome. A nomeação para governar todo aquele "deserto" horrendo, sem festas, diversão nem mulheres, fôra um castigo por êle ter "chavecado" o preferido do César, um "pedaço de mau caminho" de olhos azuis e músculos à mostra, um fauno irresistível.

Agora o imperador lhe tirava um de seus prazeres prediletos, o de perturbar a gentalha judia que viva batendo à porta do seu palácio, em Cesaréia. Aliás, acampavam em frente os inúteis, sempre que queriam algo e faziam algazarra por dias e dias. Lembrou com um sorriso a manhã em que mandou soldados -- vestidos como os palestinos e com porrete sob as vestes -- dispersar a multidão. Resultado: vários feridos e alguns mortos ! De outra feita, levou-os todos até o anfiteatro, ameaçando passá-los pelo fio da espada... os judeus não temeram, estavam dispostos a morrer ! Desistiu do intento, mas seu ódio pelo povo não diminuiu nem um pouco.

Aquela manhã seria a mais longa de sua vida, seus espiões entre o povo lhe avisaram que um certo "Nazareno" entrara com seus fanáticos em Jerusalém, na Judéia, cidade próxima e que o governador se via obrigado a visitar durante as festas mais importantes, como a da Páscoa judaica, o "Pessach".

Imerso em seus pensamentos, foi alertado que nos portões do palácio estavam vários notáveis de Jerusalém, sacerdotes e comerciantes, pedindo audiência. Entraram !

-- "Ilustre procurador, está vindo aí o "Rei dos Judeus" !

Pilatos assustou-se com o tom, mas já sabia da novidade:

-- "Não imaginava que tivesse rei... desde quando" ?!

-- "Não temos, somos leais ao Império, mas o sujeito prega a insurreição e fala em reino" !

-- "É só um doido, ao que parece, não tem exército nem seguidores, anda só ou com poucos a seguí-lo" !

-- "Nobre centurião, o pregador fala em NÃO PAGAR os impostos, em descrer dos deuses romanos. Que seja posto nas masmorras o quanto antes, não queremos que a festa do "Pessach" seja manchada com execuções" !

-- "Isto é muito sério... vou mandar prendê-lo, mas terá que passar por julgamento. Normalmente cabe ao imperador a decisão final, por isso deixarei ao seu povo a escolha sobre a vida ou morte desse infeliz" !

Pôncio -- que não simpatizava nem um pouco com aquela "raça de raposas" -- jogara um "casca de banana" no caminho dos espertalhões e, certo de que êles tentariam de tudo para atingir seu intento, preparara uma segunda cartada. Os judeus saíram confabulando:

-- "E agora ?! Vamos postar diversos dos nossos em meio à multidão, esse tal de Cristo deve morrer" !

Pôncio passou a noite em claro, a vida daquele inocente estava em suas mãos, esse problema sem dúvida era castigo de Júpiter e Juno, por êle ter relaxado com as oferendas a esses deuses. Mas, tinha um estratagema: poria, lado a lado com o Nazareno -- que segundo alguns nascera em Belém e não em Nazaré -- o bandoleiro Barrabás, que roubava dos ricos para distribuir aos pobres. Bem informado, assaltava caravana de soldados romanos, quando estes traziam o soldo ("sallarium") das 4 legiões assentadas em Cesaréia. O povo por certo salvaria o pregador e não o ladrão !

Amanheceu "sem pregar o olho", o coração apertado, preferia estar numa batalha a enfrentar aqueles "lobos" em pele de carneiro... mas, não podia contrariá-los, sua carreira de centurião estava em perigo:

-- "Povo da Judéia, se esse homem se declarar inocente das acusações que lhe fazem não poderá ser condenado, assim rezam as leis romanas" !

Sob os apupos da populaça, Jesus declara:

-- "Vim para os meus e os meus não me quiseram" !

-- "Não foi isso o que lhe perguntei... você é mesmo o "Rei dos Judeus", como ouvi dizer" ?!

-- "Meu Reino não é deste Mundo... é a Casa de meu pai" !

-- "Pai, que pai ?! Salve-se, homem, negue as acusações e poderei libertá-lo ! Vamos, diga que é inocente" !

Jesus se manteve mudo, mais vaias surgiram na multidão e alguns gritos de "morte ao traidor". A um discreto sinal do general, legionários trouxeram o ladrão mais famoso de toda aquela extensa região. Estupefatos, os autores da tramóia viram ruir, por instantes, todos os seus pérfidos planos. Felizmente os sujeitos industriados por êles, com presença de espírito, passaram a berrar o nome do meliante.

-- "Que o povo escolha entre o ladrão e o justo" !

-- "Barrabás, Barrabás... ecoaram tímidas vozes !

-- "Barrabás, Barrabás"... começou a ulular a multidão, para surpresas do governador, que não esperava tal atitude, muito pelo contrário. Os sacerdotes sorriram !

-- "Lavo as mãos do sangue desse inocente... soltem Barrabás"!, sob os urros e palmas da platéia.

Todo condenado era um "inimigo do Estado", de Roma, e qualquer tortura que lhe fizessem era pouca. Até chegar ao local da crucificação -- sempre fora dos muros da cidade -- se permitia ao povo todo tipo de maldade, vilania. Proibia-se assistir á crucificação e, no caso de Jesus, nem foi preciso. O céu escureceu como nunca antes, raios riscaram o firmamento, dizem uns que a Terra teria tremido.

Tremeram também os sacerdotes e tantos outros envolvidos na morte do Messias salvador... Pôncio Pilatos, recolhido ao palácio, só saberia na manhã seguinte, pelos soldados encarregados da execução, sobre os fenômenos celestes ocorridos apenas naquele pedaço da Judéia, em Cesaréia a tarde fôra comum.Julgou que seus militares haviam bebido demais !

Em menos de 200 anos os deuses romanos cairiam todos, substituídos pelo Deus único re verdadeiro e Roma se tornaria a capital do Cristianismo. Filho de Deus ou reles visionário agitador, o humilde Jesus Crisyto mudou, com suas palavras, o Mundo !

"NATO" AZEVEDO (em 5/jan. 2020, 20hs)

OBS: trechos desse conto se baseiam nos relatos da revista "HISTÓRIA VIVA - Grandes Temas", nº 1, "JESUS, o homem e seu tempo", da edit. DUETTO (Segmento / EDIOURO), SP, sem data.