1 Concerto para Solitude
A noite tafuiou-se em silêncio profundo. Aberto em sorrisos, o céu mudara a tonalidade de cor. Solitude ficou por ali apreciando a brisa minuana na cara, pintando estrelas com cores vívidas, tecendo sonhos impossíveis, ouvindo as águas quebrando contra as pedras no riacho ao longe, confabulando intimidades com o silêncio, comparando o passado com o presente, projetando o futuro no visto no álbum de fotos e empurrando-o para o lado, pôs-se a bordar em folha de papel uma lua inundado os pináculos e baixios do mundo. Com os bichos e animais dormindo, o ocaso pôs-se a espreitá-la. Se à muito tempo o mundo não era mais o mesmo para ela, na noite que acolheram-na com um concerto inesperado, a construtora de chuva, sol, lua, estrelas e sonhos desnudou-se ainda mais em esfuziante encanto com àquilo que acontece sem ser planejado; pois, a beleza e o essencial estão nas coisas simples não vistas a olhos nus. E a inspiração veio novamente atormentar-lhe à mente, impondo que escrevesse outro poema curto; daqueles que enchem a Natureza de lisonjas, outro haikai talvez, denominado "Novo dia" e ela atendeu o pedido:
Luar morno madrugadeiro,
Ao recolher-se espraiado nas águas,
Desperta a incandescência de um sol dourado.
Àquela altura da madrugada, não só os bichos dormiam, como também o mundo. Os músicos desplugavam os equipamentos, desmontavam as aparelhagens, quando inesperadamente, o céu abre-se em fulgor e numa centelha reluzente, Anne Haslam acompanhada por uma horda de anjos, chegam cantando. E com a sobrancelha de cima caindo sobre a de baixo e os olhos cambaleantes pelo sono das altas horas, todos renascem para ouvi-la:
At the Harbour. A letra dessa canção foi inspirada na guerra do Vietnã, a qual os americanos massacravam impiedosamente aquele povo pobre, aumentando ainda mais o sofrimento dos vietnamitas.
Travesseiro:
Sobre ele / os pensamentos apagam-se para a vida,
Emoções renovam / Imaginação acende em sonhos!
Solitude suspirou pela última vez naquela noite: "se esse povo que gritou, vociferou e fez o concerto para mim não mudou o mundo, não direcionou os povos à paz, tenho dúvidas com as benquerenças dos que governam-o atualmente. Essa minha espécie não contenta com nada; ao contrário, querem mais e mais!" Com lágrimas escorrendo-lhe pelas faces, esparramou a manta no piso e recolheu-se ali mesmo. Já era novo dia!
Completo e musicado em © obvious: http://obviousmag.org/ministerio_das_letras/2019/02/um-concerto-inesperado-para-solitude.html#ixzz5fszMaW9Y
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