O MUNDO AVERSO - CAPÍTULO 2 – A FLORESTA QUE CHORA

CAPÍTULO 2 – A FLORESTA QUE CHORA

Uma carroça saindo do oeste do continente de ARHIZAY esta a caminho da cidade real do reino de Arhein, seu condutor se chama Pill um velho fazendeiro que leva na carroça um pouco de trigo e também dois jovens rapazes, Zan e Kunin.

Pill é um homem simples do campo, roupas velhas e surradas, usando um chapéu pontiagudo feito de capim e com uma longa barba branca que se estende até a altura do peito. Ele simplesmente acolheu dois jovens viajantes para lhes dar uma carona, ficou ainda mais motivado a ajuda-los após ouvir a história de ambos.

Ambos foram vítimas de ataques de bárbaros que moram ao extremo oeste além do mar, sua vila fora completamente destruída e quase todas as pessoas morreram. Os poucos sobreviventes ou encontraram abrigo em vilas vizinhas ou foram à cidade real, como o caso dos dois.

Zan e Kunin tinham à mesma idade vinte anos, porém Zan tinha cabelos compridos e loiros e Kunin cabelos curtos e castanhos, ambos eram magros e estavam completamente encobertos pela poeira da estrada, já estavam andando a alguns dias até que Pill os encontrando, cansados e famintos aceitaram a ajuda e também ganharam um pouco de pão velho e leite que estava na carroça.

Dois cavalos conduziam a carroça, não pareciam muito saudáveis, mas também não pareciam abatidos com o fato de terem que carregar duas novas pessoas.

O motivo para Porém para Zan e Kunin irem até a cidade real era por uma questão mais pessoal, eles queriam pedir ajuda as tropas reais para expulsarem os invasores da região de sua vila e até mesmo pensavam em se juntar as tropas reais, eles buscavam de certa forma justiça, mas na visão de Zan era mais vingança. Zan perdera toda sua família de forma brutal para os invasores, ele só conseguiu sobreviver por que seu corpo ficara camuflado pela lama quando cairá no chão em meio a batalha, já Kunin também perdera membros de sua família com exceção de seu irmão Ionin, ele estava desaparecido e Kunin tinha esperanças de encontra-lo na cidade real.

Dentro da carroça os dois dividiram lugar com dois montes de palha, garrafas de leite e migalhas de pão, ao que descobriram conversando com Pill ele estava indo levar a palha para um amigo que estava necessitado. A estrada fazia a carroça saltar vez ou outra, isso tornava quase impossível para Kunin e Zan descansarem, mas eles faziam como podiam, cochilavam o pouco tempo que lhes era permitido, não era o suficiente para reestabelecem as forças, mas era para eles recuperarem parte das energias.

Após horas de estrada chegaram até uma floresta que era conhecida pelo seu curioso nome “A Floresta Que Chora”, que recebia este nome devido os habitantes locais que diziam que era possível ouvir uma mulher murmurar aos prantos em seu interior, ninguém sabia se essa história era de fato real, mas aqueles que moravam nas fazendas aos arredores juravam que se alguém mergulhasse na floresta durante a noite e se concentrasse, iria ouvir o lamento de uma mulher. Pill acreditava muito nesta história e resolvera sempre retornar a floresta, ele preferia ir por um caminho mais longo e contornar um riacho com caminho tortuoso, do que descobrir por si só se existe algo de sobrenatural na floresta, esse desvio o faria perder mais que um dia de viagem, então quando chegou próximo a floresta logo alertou aos dois em sua carroça:

- Ei garotos, esse é meu limite, irei praticamente contornar a floresta e isso irá me tomar mais que um dia de viajem.

Kunin e Zan se entreolharam e ambos saltaram da carroça, seus sapatos bateram forte no chão seco e uma massa de poeira se levantou.

- Tudo bem, obrigado. – Disse Kunin. – Mas pela floresta realmente é mais rápido?

- Se seguirem pela floresta e não pararem pra descansar creio eu que ao inicio do anoitecer já estarão do outro lado e terão uma bela vista do reino. – Comentou Pill.

- E o senhor ficará bem? – Questionou Kunin.

- O sim sem problema, acho que irei parar essa noite em uma taverna que fica aqui próximo, tenho assuntos pendentes com o dono de lá. – Pill terminou com um sorriso estranho em seu rosto.

Kunin pensou em um segundo se seria uma alternativa interessante continuar com o velho na carroça, perder um pouco mais de tempo mas chegarem no reino em segurança, a ideia de cruzar uma floresta não era muito atrativa, mas ele olhou para Zan e lembrou do sentido da urgência, se fosse pelo caminho sugerido até o final do dia seguinte já estariam conversando com algum membro da guarda real. Kunin também não queria ser muito abusivo da boa vontade do velho homem, ele já os ajudara muito.

- Tudo bem, então muito obrigado. – Disse Kunin.

Pill deu sinal para os cavalos andarem.

- Aliás, fiquem na estrada e a noite, não caminhem. – Disse Pill enquanto voltava para a carroça e soltava um gripo para o cavalo andar.

Kunin e Zan viram a carroça se distanciar e uma enorme parede de poeira se erguer criando uma barreira de visão deles para com Pill em sua carroça.

- Bem, vamos prosseguir. – Kunin disse olhando para Zan, que não respondeu e só acenou com a cabeça em afirmação.

Os dois abriram caminho entre os arbustos e seguiram para o interior da floresta, após andarem alguns metros se depararam com uma estrada que era composta por árvores baixas e um mato denso nas laterais e seu caminho no meio que praticamente era definido por gramíneas, observando mais ao alto o caminho por onde estavam andando perceberam que tinha o formato de um túnel, pois acima estava à copa das árvores que se fechava e dos lados o matagal intenso.

Ambos caminharam durante horas pela estrada sem sequer dizerem uma palavra, Kunin percebeu que Zan era uma pessoa mais reservada, mas não apenas isso ele estava muito estranho com todo acontecido, ele nem conseguia imaginar como ele estava lidando com o fato de ter perdido toda sua família. Após horas caminhando chegou o momento que o sol começara a sumir, sabiam que não era tão tarde, mas pela posição do sol em relação a copa das árvores logo tudo ficou demasiadamente escuro.

Kunin aproveitou algum momento para averiguar o local onde estava, escalou rapidamente uma das árvores e pode ver por cima da cópa onde estavam, percebeu que a floresta ainda era demasiadamente grande, o que os faria andar provavelmente até o amanhecer, julgou ele. Não parecia muito preciso o que Pill havia dito, mas em pensar que ele provavelmente nunca estivera ali é compreensível que desse uma informação equivocada.

- Melhor descansarmos por hoje, de manhã continuamos. – Disse Kunin. – Apesar do aviso de Pill não acho que terminaremos de atravessar a floresta ainda hoje.

Ambos deixaram no chão suas mochilas grandes, retiraram delas longos tecidos que ao amontoarem-nas serviram muito bem como um local confortável para dormir. Kunin acendou uma fogueira e Zan retirou um pouco de trigo da bolsa, que era basicamente tudo que lhes sobrava para comer, em uma panela começaram a jogar água e trigo e deixaram ferver um pouco, depois acrescentaram alguns restos de carne de coelho que ainda tinham guardado e parecia já estragados.

- Esta noite fará muito frio, melhor mantermos a fogueira acesa e fazermos um turno. – Disse Kunin. – O que acha?

- Certo. – Disse Zan.

- Olha, é a primeira vez que ouço sua voz em dias, que bom. – Disse Kunin em um tom mais despojado, mas como não percebeu uma melhor reação na expressão de Zan, logo voltou ao mesmo. – Eu fico com o primeiro turno então.

A noite chegou e com ela o frio intenso daquela região, Kunin se encobria com os mantos que conseguia, mas eram poucos para a ocasião, ele observava Zan dormindo e estranhava o fato de parecer com muito menos frio do que ele. Olhava ao redor e tudo que via era uma escuridão perturbadora. Ao olhar para o chão Kunin via as pedras que demarcavam a estrada entre as gramíneas esmagadas por sua bota, ele pensou que foi uma boa ideia ela terem parado para descansar, mas também pensava na chance de encontrar qualquer criatura.

Kunin cutucou o ombro de Zan repentinamente e disse “É seu turno”, Zan abriu os olhos e nem parecia tão cansado ou exausto, logo se levantou e se dirigiu para o canto da estrada, onde sentou e se enrolou em alguns mantos, Kunin deitou-se e antes de fechar os olhos fitou Zan com um olhar de preocupação e logo deitou-se pois estava exausto, os olhos de Kunin estavam pesados, ao mesmo instante que se deitou ele apagou, imergindo na pequena porção diária de morte que temos e chamamos de dormir.

Após algumas horas Kunin sentiu ser fortemente pressionado em seu ombro, ao abrir os olhos deu de cara com Zan ao seu lado com uma expressão de assustado e falando baixo algumas palavras “Acorde”, “Rápido”, “Abra os olhos”. Logo Kunin se levantou, olhou para Zan e perguntou “O que houve”, também falando em um tom baixo.

- Apenas, ouça. – Disse Zan.

Os olhos de Kunin se voltarão para a escuridão, logo se pode ouvir um murmuro ao fundo que ia aumentando gradativamente, era alguém em prantos, a voz soava cada vez mais alta e clara como a de uma mulher a medida que ia aumentando e obviamente seja o que for, também vinha se aproximando dos dois.

- É melhor andarmos, vamos sair daqui. – Disse Kunin em uma voz baixa e quase inaudível. – Seja lá o que for vem vindo pra cá.

Zan pegou suas coisas e jogou de qualquer maneira na sua enorme bolsa, já Kunin enfiou a mão no solo e jogou terra por cima da foguei e a apagou, uma fumaça branca subiu por entre a escuridão da noite.

- Não, assim fará muita fumaça. – Disse Zan em voz baixa.

- Fumaça ou luz tanto faz, vamos dar o fora daqui. – Disse Kunin de forma impaciente.

Ambos começaram a andar em sutis passos largos pela estrada, a mediada que se afastavam de onde estava começavam a apressar seus passos. Eis que Zan para e agarra a roupa de Kunin para pará-lo e diz:

- Espera aquele velho Pill disse que não era para caminharmos à noite.

- Do que você esta falando? Se quiser parar pra morrer, pare sozinho. - Comentou Kunin e logo começou a caminhar.

Zan ficou atrás vendo Kunin se distanciar, porém ele decidiu que não iria se mover, aquelas palavras do velho traziam certo significado para ele.

O choro se tornou um berro, a voz estava basicamente ao lado de ambos, Kunin com o susto soltou um berro “A MEU DEUS, ESTA AQUI”. A voz parou e um silenciou tomou conta do ambiente, Zan então começou a se mexer vagarosamente, olhando para os lados com calma forçando seus olhos o máximo que pode tentando enxergar algo em meio a escuridão. Kunin estava imóvel e de costas para Zan, logo ele se virou lentamente e Zan pode ver sua expressão mudar para uma face de espanto.

- Zan, atrás de você. CORRA! – Ao dizer a última palavra Kunin deu de costas e saiu correndo, porém Zan continuou parado e sentiu algo saltar por cima dele.

Ele pode ver bem a figura que passou por cima dele, era uma velha magra e enorme com várias rugas pelo corpo, em uma dar mãos carregava uma vassoura, vestia um vestido enorme e aparentemente muito velho. Ela colocou a vassoura embaixo das pernas e magicamente a vassoura a fez flutuar e instantaneamente ela começou a voar em direção a Kunin, o som que a vassoura emitia era o de um múrmuro de uma mulher.

Tudo aquilo parecera tão surreal que Zan ficou sem reação, sua mente se esvaziou por completo.

Kunin sentiu um golpe nas costas, caiu com força no chão e sua boca acertara umas das pedras, como resultado dois de seus dentes frontais voaram pela mata escura. Ele se virou cuspindo sangue e deu de cara com a velha assustadora.

- Meu Deus, me perdoe. – Disse Kunin enquanto começava a chorar. – ALGUÉM ME AJUDA. – Gritou com toda a força que tinha, sangue escorria mais ferozmente pela sua boca e lágrimas percorriam seu rosto, sua roupa estava completamente tingida pelo seu sangue.

Zan não conseguia velos muito bem, mas podia os ouvir claramente, ele pensou em ajudar o amigo, mas estava muito espantado com o que acabara de ver. Um frio percorra sua espinha e ele procurou em suas vestes algo que pudesse servir para golpear a velha.

A velha esticou seu braço em direção ao rosco de Kunin e algumas palavras em alto e bom som foram ditas “ TUKNI NUARDU VERRSU”, um vapor acinzentado saíra do dedo da velha e foram inalados pelas narinas de Kunin que quase que imediatamente começara a se contorcer no chão, seu corpo começou a perder a cor e começava a ficar cada vez mais magro, seus olhos se esbugalharam e após isto um vapor verde sairá de sua boca e a velha abriu a sua e começou a sugar este estranho vapor, como se estivesse bebendo daquilo que saia da boca de Kunin.

Quando o vapor terminou de sair, o corpo ressecado de Kunin ficou estirado no solo e ela apenas pegou sua vassoura e colocou novamente entre as pernas, desta vez voando mata adentro enquanto fazia o som do múrmuro de uma mulher.

Zan sabia que Kunin estava morto e que nada poderia fazer, ele esperou alguns segundos até recuperar melhor sua consciência e se aproximou, ao chegar perto viu que era evidente que Kunin estava morto, era como se toda a gordura do corpo tivesse sido retirada ficando visível o contorno dos ossos.

Logo Zan decidiu que precisaria sair dali, porém sem visibilidade e com uma criatura como aquela vagando pelo breu da noite, seria muito arriscado, ele então caminhou próximo as árvores a procura de um local adequado para se esconder, pensou que seria melhor ele esperar até o amanhecer e terminar de sair lá, já que não poderia fazer nada a respeito de Kunin.

Viu uma árvore com uma fenda em seu meio, grande o suficiente para ele se enfiar ali e se esconder, logo começou a retirar alguns galhos retorcidos que estavam na frente para ficar ali de uma forma mais confortável, Zan os removia de forma sútil e sem fazer muito barulho, com medo de que a velha voltasse.

Um galho se partiu atrás de Zan e ele parou imediatamente de arrumar os galhos, pensou que era a própria velha que voltou, então esticou suas mãos e agachou vagarosamente procurando algo que pudesse servir como arma e encontrou uma pedra no chão, ao pensar em virar-se sentiu algo bater fortemente sua cabeça, Zan cambaleou para frente e sua visão ficou turva, novamente outro golpe ainda mais forte o fizera ir ao chão, uma terceira pancada então fizera perder sua consciência.

Saah__
Enviado por Saah__ em 06/11/2018
Código do texto: T6496310
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