Marido novo, vida nova?

Quatro horas da tarde e cartas de baralho nas mãos. O que não faltava em um momento daqueles era tempo. Trabalho; algo excluído de seu cotidiano. Nem seus filhos criou.

O dia começava às dez da manhã. Até lá a vida passava, as coisas aconteciam e de olhos fechados nada via. Roberto não sabia nem qual a série no colégio seus filhos cursavam.

Tirava parte de seu tempo em rodas, apostando jogos. Não escondendo sua incapacidade de trabalhar, ou de procurar o que fazer. Sua rotina baseava-se em mandar e desmandar na mulher que fazia de tudo para agradar o marido, temendo as suas repetitivas ameaças de: — Ou você faz as essas coisas direito, ou vou procurar outra que faça.

O que seria quase impossível, que mulher queria casar-se com um homem que só levava o tempo a estar na rua? Paquerando com as bonitonas que iam à academia.

Do outro lado, Socorro sua esposa: Rosto envelhecido, mãos calejadas e mente cansada. Saia às cinco para comprar o que comer antes de os filhos saírem para a escola. O caminho era pedregoso, ainda escuro. Andavam quilômetros até chegarem á beira de um rio onde pegavam uma embarcação de alunos que também não tinham como atravessar aquelas águas para irem estudar.

Respirava brigas, o relacionamento com O gigolô do seu marido não era um dos melhores. As responsabilidades dos pais, ela quem assumia. Dividas, pagava todas e escondia-se nos cantos quando não tinha dinheiro para mais um cobrador que vinha bater à porta.

Uma revira volta aconteceu quando conheceu seu atual esposo. Washington. Socorro trabalhava como vendedora de água. Um sujeito estranho apareceu perguntando-lhe como uma mulher como aquela trabalhava pesado daquele jeito:

— Você só pode ser solteira e não ter filhos né?

— Não, sou casada e tenho dois filhos, meus amores.

— E aonde está ele, seu marido, a essa hora que não esta aqui, pegando duro neste serviço com você?

— Ah. Essa hora ele deve está sentado na calçada com um monte de cartas nas mãos.

— Eu estou precisando de uma camareira para trabalhar em minha casa. Você quer assumir este cargo? Com uma condição; você leva seus filhos para morarem lá conosco e abandona de vez este seu marido, como é o nome dele?

— Roberto.

— Pois é, se você abandoná-lo e resolver viver uma vida melhor...

Socorro não se convenceu que aquele homem seria capaz de dar moradia e emprego para uma desconhecida. Ele, naquele carro de luxo, provavelmente seria uma pessoa que costumava ser alguém zeloso, ciumento com suas coisas. Seu cartão com o endereço estava dentro de sua bolsa, caso precisasse, com um só contato, seus problemas com Roberto acabariam.

Uma briga somente foi necessária para procurá-lo. De ´´mala e cuia''.

O cargo de arrumadeira foi temporário, Washington logo a pediu em casamento e pressionada por seus filhos, aceitara. Ainda se encontrava incomodada psicologicamente quando lembrava dos embaraçosos momentos que tivera ao lado do crápula de seu ex-marido.

Percebia o quanto foi doloroso casar-se novamente e ser feliz ao lado de outro, quando em toques, Roberto lhe acordava:

— Socorro, acorda, você ainda não fez o café e estou com fome. Acorda amor. Está sonhando?

Breno Nottingham
Enviado por Breno Nottingham em 14/02/2018
Código do texto: T6253616
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