O Grande Espetáculo
Aí chegou o vento, e teceu pinturas com desenhos de vidro, passeou os dedos, imperceptível, escondeu os defeitos, e se fechou em seu eu. Aí o céu escureceu, e se fez belo, dizendo “duvido ser esse desenho mais bonito do que eu!” e, logo após, choveu. Choveu de um jeito dramático, chuvoso como ele só, choveu de um jeito de dar dó, um frio que corroeu espinhas, que tremeu toda a terra, fez tremer toda a vida. O vento nem se comoveu, não sentia nada, frio como um ateu, continuou a desenhar os desenhos mais melancólicos e belos, de matar de inveja qualquer Picasso ou Michelangelo, de matar de angústia os seres humanos. Ô vento mau! Só pensa em seu bel-prazer, nem liga de ver os outros assim sofrer! A Terra lá embaixo se acabando, e ele aí desenhando! Mas aí então o Sol foi se chegando, para trás o medo que ele possuía foi ficando, até virar um resto de nada na imensidão. Abriu seus olhos assim, sorriu de um jeito feliz, e, com seu raios, fez no céu um lindo arco-íris. Todos pararam, extasiados, até o vento olhou infeliz: -Esse arco-íris é bem mais belo que todos os desenhos que já fiz!- e com essa exclamação, se recolheu, e o céu parou de chorar, mimado, e o sol brilhou, deixando a todos maravilhados: que grande espetáculo!