O Corvo Negro - Prólogo
O continente de Ayrlia faz parte de um mundo simples. Um mundo regido pela força da espada e do martelo. Em um mundo como esse a magia perdeu terreno até praticamente desaparecer. Hoje os praticantes dessa arte são vistos com maus olhos pelos guerreiros que se consideram mais dignos.
Pelo preconceito empregado aos magos e feiticeiros, uma guerra civil se iniciou. As cidades, governadas por antigas famílias de espadachins apoiaram aqueles que empunhavam armas terrenas. Apenas uma cidade era comandada por magos, Gorgon ao norte, mas esta como de costume permaneceu neutra.
Percebendo que a batalha contra os guerreiros e seus enormes exércitos estava perdida, os magos errantes partiram para o leste, na direção de outro continente. Das novas terras, os feiticeiros enviaram monstros horrendos. Os mais poderosos conseguiram invocar demônios que entravam na mente dos mais fracos os tornando mais peões. Doando suas vidas pela vingança, centenas dos seres mágicos usaram totalmente suas energias para congelar o oceano que dividia os dois enormes pedaços de terra.
Os seres grotescos marcharam por cima do gelo rígido chamando a atenção das cidades costeiras de Ayrlia. Quando chegaram eram esperados por um exército de humanos dez vezes maior. Um massacre ocorreu naquela manhã, sujando o branco do solo com o vermelho rubro do sangue podre das criaturas misturado com o pouco derramado pelos mortais. Depois da primeira derrota foram enviados mais três batalhões, cada vez maiores, mas o tempo que levava para alcançarem o continente alvo dava chance para que os homens preparassem estratégias coordenadas com auxílio dos próprios magos de Gorgon e dos corvos, caçadores de recompensa conhecidos pela inteligência e competência.
O segundo e o terceiro ataques foram derrubados com facilidade, mas o quarto já foi muito mais bruto. As forças humanas acabaram por vencer, mas muitos homens caíram. As novas notícias trazidas pelos corvos relatavam mais um último golpe de monstros, os magos que sobraram após a construção da enorme ponte de gelo vinham os acompanhando e traziam artefatos místicos com poderes desconhecidos. A crise assolava todo o continente, causada pelas necessidades exageradas dos exércitos e com a falta de produção.
Entre as grandes cidades, a que mais sofria era Gorgon. A capital dos magos era a única a fazer comércio com outros continentes e recebia todos seus produtos das outras capitais. Estavam quebrando, e enraivecidos com sua situação decidiram entrar no combate de forma mais direta. Os ferreiros de Griswold foram ordenados para que voltassem a seus afazeres, mas trabalhando com os materiais mais poderosos. O metal base de todos os artefatos forjados era Galdir, prateado e volúvel, o único que podia absorver energias, magias.
O exército dos humanos se tornou uma mescla de guerreiros armados com espadas e demais armas místicas, corvos preparados para ataques surpresa e todos os que sabiam evocar qualquer magia capaz de matar seres inimigos. Os oponentes chegaram aos limites sem demora. Uma enorme parte da ponte de gelo caiu por força dos místicos de Ayrlia, engolindo boa parte do exército dos monstros. Os magos adversários mostraram seu valor, destruindo cidades conforme avançavam. Ran e Galdeo, duas das três maiores e mais importantes cidades do continente, foram tomadas pelos batalhões do leste. Com pouco mais de um ano de incursões dos humanos, os inimigos foram quase totalmente exterminados. A maior parte dos artefatos místicos foram destruídos durante os combates, mas cada um dos reis salvou uma arma para si, como uma lembrança do que ocorrera.
Depois do fim das “Guerras Arcanas”, como foram chamadas posteriormente, os monstros que sobreviveram se espalharam por todo o continente. Alguns deles passavam sua raça como maldição, outros acabaram se reproduzindo com velocidade e criando pequenos grupos, mas eram exclusos. Talvez por vingança, um grupo de vinte seres que se consideravam parecidos decidiu atacar a cidade de Gor, a menos preparada e mais ao sul, a responsável pela maior quantidade de produção de carne. Mas antes precisavam destruir alguns vilarejos no caminho.
Um dono de terras da região arrombou a porta do escritório do chefe da pequena aldeia e anunciou aos berros.
- Os monstros estão vindo!
O chefe rapidamente escreveu um pedido de ajuda para Gor o enviando com a águia mensageira. O pássaro alçou voo na direção sul, com a esperança de toda uma população presa em sua pata. Os poucos guardas que havia na aldeia foram acionados para esvaziar as casas e mandar todos para a floresta. Logo que as casas foram esvaziadas, os soldados voltaram para tentar contra-atacar.
O pequeno grupo de monstros que estava atacando não era nada de mais, mas realmente a vila estava despreparada. Já havia meses que a paz tinha se instaurado e aquela região nunca foi das mais guerrilheiras. O contingente de soldados foi rapidamente destruído.
O chefe da vila seguiu com seu povo para a floresta em busca de abrigo. Os monstros subiram tentaram seguir pelas estradas, mas dizem que foram aniquilados por um grupo de corvos que em uma coincidência única voltavam para suas casas ao norte.
A ave de rapina voltou para o chefe da aldeia com uma mensagem de Gor pedindo se haviam sobrevivido. A mensagem foi respondida avisando que no dia seguinte um contingente de pessoas refugiadas chegaria e precisavam de alimento e moradia.
Na cidade de Gor as notícias se espalhavam. Alguns ficaram com medo de mais pessoas chegando á cidade, a economia já não ia bem, não queriam mais cidadãos usufruindo da terra gelada e infértil da metrópole.
Em especial, um jovem ficou muito ansioso pela notícia. Seu pai foi um herói que ajudou a expulsar aquelas criaturas podres da terra dos mortais. Seu nome era Ukel Delacced e foi correndo dormir para que no dia seguinte pudesse ver os recém-chegados.