O tesouro amaldiçoado e a sua bela dama
As palavras da bela dama ressoavam na sua mente, junto com a melodia da harpa que ela tocava.
Perdido ele está
Mas aqui se pode encontrar
O coração da ilha
É o seu lugar.
O desafio não podia ser desfeito e tinha que respondê-lo até amanhã de manhã ou todos morreriam, pelo menos fora isso que ela disse... Onde se encontrava o seu esposo?
A montanha de tesouros que havia no centro da ilha e que prometia riquezas eternas a ele e seus companheiros, agora se erguia diante dele como uma maldição.
Os quarenta guerreiros que atracaram na ilha, cansados da longa viagem, pararam no banco de areia e após comerem e beberem, eles caíram em um sono profundo, onde apenas ele despertou, e vagando pela ilha encontrou a bela dama.
Depois dos versos, tentou acordá-los, chacoalhando as suas cabeças, berrando em seus ouvidos e os chutando, mas nada os faria acordar e assim decidiu sair à procura do homem misterioso.
– Terá três chances, caso responda corretamente, deixarei você e seus companheiros partirem e levar o tesouro desta ilha. Estas são as regras – Disse a bela dama.
No meio da noite, as cavernas pareciam um bom esconderijo, ele se arriscou pelas paredes úmidas que poderiam abrigar algum animal feroz, mas nada encontrou. Subia nas árvores mais altas, explorou cada canto da ilha até se deparar com a montanha de tesouros.
Caso voltasse para a sua terra natal com todo aquele ouro poderia se tornar um herói à altura de Beowulf. Apanhou um cálice de prata no pé da montanha, que soterrado pelos tesouros, revelava apenas uma pequena parte da base rochosa. Os seus olhos se admiraram com a beleza do objeto e o acariciou como a um filho, mas logo em seguida se arrependeu de sua distração, balançou a cabeça e esfregou os olhos, concentre-se, a sua vida depende disso, disse a si mesmo, arremessando o objeto para longe com raiva.
Porém, não encontrou ninguém na ilha perdida.
O sol lançou seus primeiros raios sobre o céu e a bela dama lhe chamou na entrada da Floresta, e como antes, tocava harpa, sentada em uma pedra, com seu vestido azul que caía com leveza até se confundir com a grama verde e úmida, onde seus pés repousavam escondidos pela veste.
– Qual é a resposta do desafio – Perguntou-lhe.
– O seu esposo é um ser invisível. – Respondeu.
– De fato, ele está invisível, mas de modo algum é um ser invisível.
Aflito, fez sua segunda tentativa.
– O seu esposo é um animal desta ilha.
– Deveras, em alguns momentos ele pode se tornar tão furioso quanto um animal, mas não. Última chance.
O guerreiro tentava encontrar uma resposta ainda que tardia, movimentando os seus olhos de um lado para o outro.
– O mar. – Gaguejou.
A bela dama parou de tocar a harpa.
– A reposta era a montanha e agora exijo o que é meu! – Disse furiosa.
O corpo da bela dama explodiu, tornando-se água e inundando a ilha, o guerreiro foi atingido por uma onda repentina, e debaixo da furiosa tormenta, se debatia inutilmente para emergir e respirar. Mas logo a onda retrocedeu, tomando a forma compacta de um dragão azul, mas outro som invadiu os ouvidos momentaneamente surdos dele pela água, vindos do centro da ilha.
A montanha se movia, os tesouros caíam do topo dela, cobrindo árvores e tudo o que estava em seu redor, e debaixo dela surgiu um imenso dragão cinza. O guerreiro correu até o dracar, mas o dragão da montanha chegou antes dele, perfurando o navio com as poderosas garras nos dois lados do navio, ele o elevou até as nuvens e de lá o jogou para naufragar no mar.
Quando o guerreiro alcançou a praia, sentiu uma onda de calor vindo às costas, e ao se virar, foi consumido pelo fogo do dragão azul.
O dragão cinza voltou à ilha, e a bela dama, na sua forma humana, começou a dedilhar novamente os dedos finos e delicados na harpa e assim fez com que seu esposo voltasse a adormecer. O banquete estava servido.
– Mundo Milenar