O Homem das Luvas de Ouro
Ele havia finalmente revolucionado a alquimia. O que diziam antes ser impossível de se produzir, era desmentido naquele momento.
Ia muito além de uma pedra filosofal. A fórmula ficaria com ele para sempre, em seus dedos mágicos. Ele conseguira transferir o poder de transformar qualquer metal em ouro puro, para seus dedos.
Qualquer metal se transformara em ouro com o seu toque.
Testou então em seu antigo colar de prata, enferrujado. Aos poucos, viu ele se transformar magicamente em ouro... Não conseguia acreditar! Ele agora seria rico.
Sentou-se então à mesa, ainda custando a acreditar no que conseguira. Apoiou suas mãos na mesa, e do ponto onde havia encostado seus dedos, a mesa de madeira escura rapidamente começara a mudar de cor, para um dourado vivo. O que acontecera?
Assustou-se e verificou se não havia algum metal nela. Nada encontrara, além de madeira pura. Encostou seus dedos então em sua velha poltrona de couro, surrada, e rapidamente a poltrona começou a transformar-se em ouro puro...
Algo falhara... Como poderia tocar qualquer objeto, sem que o mesmo se transformasse em ouro? Isso o prejudicaria em muitos aspectos.
Decidiu então encontrar uma solução para o seu problema. Pegou seu velho par de luvas de couro e o transformou em luvas de ouro. Calçou-as, e agora podia tocar em tudo, sem que as coisas começassem a se transformar em ouro.
O velho alquimista enriqueceu e mudou-se para uma mansão. Deu um baile para o povo da cidade em seu salão e lá conheceu uma bela mulher, mais jovem que ele. Os dois começaram a dançar e ele a segurava com seu par de luvas de ouro.
Os dois começaram a sair e ele se apaixonou perdidamente pela bela mulher. Ela lhe prometeu todo o seu amor e os dois ficaram juntos. Ele lhe comprava tudo do bom e do melhor, e ela lhe dava todo o prazer do mundo. Ele transformou todas as joias da bela moça em ouro, porém não estava feliz. Ele queria tocá-la, e ela dizia se sentir mal com o fato de não poder tocar nas mãos do velho alquimista: “Se eu te tocar, transformar-te-ei em ouro”.
A moça então sugeriu que ele cortasse fora os dedos e os jogasse no fundo do oceano, dentro de uma velha garrafa de ouro, para que os dedos não tocassem a água. Ele pensou por um tempo, mas vendo a infelicidade da bela moça, assim o fez. Pegou um velho facão com as mãos (que rapidamente se transformou em ouro) e cortou fora todos os dedos da mão direita. O sangue jorrou pela velha mesa de ouro, e a bela moça, piedosa, ajudou-lhe a cortar os dedos da mão esquerda.
Com cuidado, ela os recolheu e os colocou dentro da garrafa, que se transformou em ouro. Eles ainda funcionavam, e ela se admirou.
- “Você os jogará no fundo do oceano, não é mesmo, minha amada?”
- “É claro que sim! Farei isso agora”.
Ela então partiu, e ele a esperou retornar por 30 dias e 30 noites. Mas ela nunca retornou. Fugiu com os dedos do pobre alquimista, transformando objetos em ouro pelo mundo afora, e enriquecendo cada vez mais. Casou-se com um belo moço em outro país e esqueceu-se completamente do velho alquimista, que hoje descobriu o elixir da vida, o que o tornou imortal. Terá o resto da eternidade para encontrar a bela moça e matá-la com suas próprias mãos (ou pelo menos, com o que restou delas).