Perdida (Força 1- Desconhecido)- cap. 1

Esse é o primeiro capítulo de um livro que estou escrevendo. Criticas, por favor, sugestões, acrescimos, decrescimos, vale tudo! Grata!

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FORÇA 1- O DESCONHECIDO

Suave como o vento, ele entrou na sala. Eu tremia por dentro, mas resolvi ignorar e tentar disfarçar, não queria que ele percebesse minha interna aflição. Mas também, era para tanto ou mais. Não é todo dia que eu me encontro com um bruxo. Não é todo dia que eu insisto na procura pelo espírito da minha irmã. Eu sei o que os médicos disseram. Ouvi a conversa dos legistas com meus pais. Vi a certidão de óbito. Mas me recuso a acreditar que ela se suicidou. Lara era perfeita. Olhos azuis, 58 quilos distribuídos em 1,70m de altura, cabelos sedosos e macios, de um louro tão bonito quanto os raios solares. Ela era a imagem da perfeição. Ao contrário de mim, que parecia mais uma boneca de porcelana de tão branca e sem graça. Ela não se mataria. Não tinha motivos para isso. A polícia havia investigado o caso, mas eu não me convencia. Minha irmã havia sido assassinada! Mas, como? Porque? Por quem? Tudo isso girava em minha mente, mas não conseguia encontrar essas respostas. Foi aí que ele entrou em minha vida.

Quando ouvimos falar em bruxos, lembramos logo se seres asquerosos em roupas horríveis, escondidos em cavernas ou castelos mal assombrados, donos de um cheiro insuportável, vivendo com alguns gatos e morcegos. Peter passava bem longe dessa descrição. Eu o encontrei por acaso, numa lista telefônica antiga, procurando por um bruxo, curandeiro, ou qualquer outra criatura que fosse capaz de invocar o espírito de minha irmã. Peter Von Klawn. O nome me chamou a atenção. Na descrição, dizia “Hipnólogo, mestre em Alta Magia, Médium” e mais umas trinta ou mais especialidades. Logo abaixo seu número de contato. Arranquei a página da lista e a levei para casa. Liguei imediatamente, e ao ouvir aquela voz tão doce e jovem, pensei se tratar de seu assistente pessoal. Deu-me o endereço de moradia do Tal Von Klawn e, apesar de morta de medo, fui encontra-lo sozinha.

Morava numa casa muito bonita, um pouco afastada da cidade. A casinha branca era rodeada por um jardim incrivelmente bem cuidado. As plantas pareciam artificiais de tão verdes e viçosas. Samambaias, petúnias, rosas, alecrins, jasmins, amores-perfeitos, espalhavam-se ao redor da casa. Parecia casinha de sonho ou de filme de fantasia. Respirei fundo e olhei para a estrada deserta que havia me trazido até ali. Eu tinha visto algumas casas alguns metros antes, mas vizinhos mesmo, ele não tinha. Tirei o capacete para observar melhor a paisagem. Parecia mentira que ali morava um bruxo, ou médium, como havia lido no anúncio. Desci da moto num só pulo, esgueirando-me por sobre uma baixa (e até bem frágil) cerca de madeira. Voltei a olhar a estrada. Eu ainda podia ir embora. Olhei de volta para a casa. Respirei fundo, decidida a esquecer aquela loucura de procurar Lara e virei-me para sair, quando ouvi a porta da frente se destrancar e abrir.

Senti meu coração acelerar no peito quando o vi aproximar-se com um sorriso no rosto. Moreno, pouca coisa mais alto que eu (e me considero baixinha), cabelos negros, um modo de andar esquisito, mãos dentro dos bolsos. Seus olhos, não pude ver, estava usando um enorme óculos escuros.

-Não vai entrar?- ele perguntou como se lesse minha mente. Como se lesse, o que estou dizendo? ELE LEU MINHA MENTE!

-Estava tentando descobrir se era mesmo aqui!- Sorri sem jeito, tentando parecer simpática. O sorriso dele tornou-se mais sóbrio e ele abriu o pequeno portão de madeira me deixando passar. Ao passar por ele, vi brilhar em seu pescoço uma corrente prateada. Enquanto fechava o portão, observei seus dedos, cheios de anéis prateados e um, específico, me chamou a atenção. Trazia uma linda pedra ametista que brilhava contra a luz do sol.

-Preciso colocar minha moto para dentro?

Ele voltou-se para mim e sorriu.

-Não é necessário. Ninguém tocará nela. Vamos?

Passou em minha frente e eu o acompanhei. Com certeza, tratava-se do ajudante do tal bruxo. Não me parecia ter mais que 25 anos.

-26, para ser mais correto.

Parei ao ouvi-lo. Ele estava mesmo lendo a minha mente.

-Não se preocupe, não faço isso direto. Apenas para me certificar de que você não é alguma jornalistazinha de meia pataca tentando conseguir uma matéria idiota para algum jornaleco...

Ok. Havia um tom de arrogância insuportável na voz dele. Mas evitei pensar, já que ele podia ler a minha mente. Se ele podia fazer isso, o que o verdadeiro bruxo poderia? Ouvi um risinho abafado dele enquanto pensei isso. Aff. Estava ficando chato aquela coisa de leitura de mente.

-Por favor, damas primeiro.- Ele abriu a porta e parou ao lado dela, sorrindo. Quando entrei, prendi a respiração. De alguma forma, parecia que aquela sala havia parado no tempo. Espadas samurais, esculturas em madeira de seres que não reconheci, alguns móveis pareciam realmente muito antigos e duas velhas poltronas ao lado de um sofá estampado que já perdia a cor. As paredes, repletas de quadros, das mais impressionantes paisagens pitadas à mão. Não reconheci nenhuma delas.

-São todas minhas.

Virei-me para ele, de sopetão.

-Ah, perdoe-me. Não faço mais.- ele sorriu.

Convidou-me a sentar. Ao cruzar a pequena sala até uma das poltronas que ele me indicou, observei uma estreita porta que dava para uma outra salinha. E o que vi ali fez meus olhos arderem e brilharem. Uma biblioteca montada com sabe Deus quantos volumes de quantos estilos.

-Oh... my... God....

-Impressionada?

-Preciso dizer? Você já não leu minha mente?

-Disse-lhe que não faria mais. Não volto atrás na minha palavra.

Ele foi seco. Apenas assenti com a cabeça, sentando-me.

-É uma coleção e tanto! É do seu mestre?

Ele me olhou.

-Que mestre?

-O médium... Peter Von Klown...

-Klawn- corrigiu-me- e ele não é meu mestre.

Eu o olhei e já estava odiando o fato de permanecer de óculos escuros dentro de casa.

-Eu sou Peter Von Klawn.

A essa altura, eu não deveria me surpreender, certo? Errado. Não disse nada, mas não acreditei. Ele era muito novo para ser tudo aquilo descrito no anúncio. Talvez fosse uma fraude. Vi-o passar as mãos pelos cabelos que caíam-lhe em mechas pela testa e suspirar, tirando os óculos.

-Nunca, jamais, duvide de mim.

Não escutei direito. Estava presa, hipnotizada por aquele olhar. Não consegui desviar o olhar. Um olhar tão profundo, parecia que queimava em labaredas. Suas pupilas eram cor de fogo, de brasas quando ficam encandecidas. Tinha algo de magnético naquele olhar que me prendeu, me tirou o ar. Senti como se o mundo tivesse parado.

-Só fica assim quando quero.

Sua voz me tirou daquele torpor.

-Oi?- perguntei.

-Os meus olhos, o tom vermelho. Só fica assim quando quero.

-E porque ia querer isso agora?

-Para provar a seu incrédulo coração que estou falando a verdade.

Ele ergueu-se, depositando os óculos sobre a mesinha de centro. Aproximou-se de mim, me estendeu a mão esquerda, segurando gentilmente a minha, ergueu-me. Beijou-me a mão e disse:

-Sou Peter Von Klawn. Bem vinda à minha casa.

Senti minha mão arder. Me perdi no olhar dele novamente. Vi a sala girar, minha vista escurecer. Desmaiei.

Milene Gomes
Enviado por Milene Gomes em 13/05/2014
Reeditado em 20/08/2019
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