Valquíria, a Verduga da Lei


Valquíria era uma mulher amarga.
Talvez porque sua vida fosse um tédio sem fim ou talvez porque ela já não fosse atraente o suficiente para chamar a atenção de ninguém.
Quando não estava na frente do espelho a aplicar os infindáveis cremes que não amenizavam os sinais do tempo ou suando na esteira lenta que não dava conta dos quilos que a atormentavam, passava o dia a espionar as janelas alheias em busca de um motivo para destilar suas falas de rancor.
Valquíria era terrível.
Defensora contumaz da ética, da honestidade e dos bons costumes, partia em busca da defesa da moral que para ela era indiscutível.
E assim redigia cartas e bilhetes, recados e anotações e expedia para aqueles que julgava que mereciam suas palavras sábias.
Tudo em nome da ordem.
Tudo de forma anônima.
Porque Valquíria, apesar de ser uma verduga da lei, não podia se expor. Se assim o fizesse poderia tornar pública sua imagem, seu rosto, sua forma de pensar e sabe-se lá mais o que ela guardava.
E assim os dias passavam em meio à máscaras que não amenizavam as rugas e nem faziam valer as horas intermináveis vividas em frente à TV em busca de alguma satisfação sonhada com os personagens de novela.
O que Valquíria desconhecia era que julgadores há muitos, a maioria equivocada, ignorante e supostamente movido por um sentimento rançoso: a inveja.
Mas ela por certo, estava acima disto. Era pessoa de bem, cuidava mesmo era dos interesses do mundo.
E por trás da cortina, oculta com óculos de sol e nomes criados a exemplo dos espiões que tudo sabiam, buscava a correção alheia sob seus critérios.
Que coisa boa ter Valquírias no mundo. Na mesma medida em que apontam os dedos enquanto sentam no próprio rabo, são também termômetros da importância daqueles que as incomodam.
Um brinde a todas as Valquírias da vida. Sem elas, provavelmente os dias seriam um pouco mais chatos.
Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 19/09/2013
Reeditado em 23/09/2013
Código do texto: T4488586
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