Saiam de si, Olhem para si.
Tenho sentido-me fora de mim, enxergo-me de fora para dentro, como em terceira pessoa. É esquisito, estranho, intrigante, louco. Excelente!
Olho-me como num retrato, e enjoo fácil de mim, como é chato ser sempre assim, olhando-me agora desse ponto, dessa visão-outra-pessoa. Olhando minha face magra e fatigada, meu rosto ocssudo, meus olhos quase mortos, meu sorriso amarelo, e não que eu não goste de amarelo, amarelo é uma cor bonita, é a cor do sol, da alegria. Mas quando trata-se de dentes, costumam detestar o amarelo, mas eles são amarelados mesmo. Como o de quase todas outras pessoas, as mesmas que detestam dentes amarelos. Esquisito.
E me olhando assim, de fora, percebo umas manias estranhas, minhas manias, que todos devem perceber a muito, desde sempre, e eu jamais havia reparado ou pensado a respeito, mas hoje, agora eu posso, eu enxergo, e isso é terrífico.
Vejo-me sentado, pernas cruzadas, um livro no colo, vigiado por meus olhos atentos e pensamentos furtivos, entre os dedos um cigarro, a fumaça neblina a sala. Sou eu, visto de fora por mim, mas sou eu. Esquisito.
Como pareço estranho para mim. Como parece estranho ler essa ultima frase. Será que sou eu o único premiado (ou sentenciado)?
Será que todas as outras pessoas a enxergam em terceira pessoa? Pois deviam, agora que descobri que posso, constantemente encontro-me comigo mesmo. E penso, penso, penso tanto e tão alto, que pareço estar conversando, as ideias surgem gritando em minha cabeça, isso é deliciosamente bom! Olho-me de cima, olho-me estranho, olho-me eu, e olhando-me sinto-me divinamente bem, então só posso dizer, caras e caros: saiam de si e olhem pra si!