Fantasia Improvisada

Estou nadando no êxtase, é simplesmente isso, não tenho mais palavras. Era uma infinita piscina de um líquido dourado, era tudo tão leve que eu estava boiando, flutuando eternamente. Aquilo era o puro êxtase, eu boiava no êxtase líquido, respirava o êxtase gasoso e era feito de êxtase sólido. Naquele lugar não havia tempo. Eu estava preso em um momento de perfeição, entreque ao prazer supremo, sempre estive la e sempre estaria lá. Estagnado. Lá, nada acontecia tudo simplesmente era, uma sensação, eu era mais leve que uma pluma. Eu era o máximo do que poderia ser, ao mesmo tempo que não era nada. Eu nunca sentira aquilo na minha vida, e estava muito mais do que morto. não sabia o que era, mas não havia necessidade de pensar naquilo. Aonde eu estava não havia necessidade de pensar, de respirar, de comer, de beber e nem mesmo de ser. Tudo apenas fluia em uma perfeição absoluta e dourada, seguia um fluxo contínuo e realmente era o tudo e o nada.

Como já disse antes, lá não havia tempo, mas derrepente surgiu uma vibração. Era algo magnânimo, mas me incomodava profundamente, pois era uma vibração em completa desarmonia com o lugar, era um desconforto aonde não existia desconforto, era uma tristeza aonde não havia tristeza, uma fúria aondo só havia a paz e a harmonia, mas era grandioso, glorioso e me trouxe algo que a muito tempo, ou não, eu havia perdido: O porquê. Por que eu estou aqui? Por que eu me tornei esse ser apático perdido aos próprios prazeres? O que eu era? Por que? Por que? Por que? eram muitas perguntas invadindo minha mente em um lugar aonde não existia. eu estava enlouquecendo. Aquela vibração era um canto que me fez chorar, e eu chorava aonde tudo era perfeito, chorava no mais profundo êxtase e chorava até estar seco por dentro, até estar vazio.

Então, o canto se tornou uma voz:

-Bem vindo ao inferno, irmão, aqui você poderá se entregar ao mais puro prazer para todo o sempre. Aqui não existe as dificuldades que você encontraria no paraíso, aqui não há nada exceto o prazer, o êxtase. Você é abençoado por ouvir minha voz, por isso ofereço-lhe a chance de voltar a vida e talvez se redimir e chegar ao paraíso.

Então eu olhei ao meu redor. Lá nessa piscina dourada havia muitos outros imersos dos seus próprios prazeres como se fossem alheios à tudo. Estavam surdos, estavam em harmonia. Era impossível ficar em paz com essa voz, a voz não existia para eles. E na minha frente havia um imponente cavalo, completamente negro e com os olhos vermelhos em chamas, e um homem montado nele. Eles sempre estiveram lá, assim como todos os outros homens naquele lugar. Ele simplesmente destoava de tudo aquilo...

-Não, fui eu quem fiz esse lugar, o pior inferno que você possa imaginar, porque é o melhor lugar que existe, aqui é a punição por aqueles que se entregam aos seus prazeres, são punidos com a apatia, a estagnação. Aqui você não sai do lugar, aqui você não aprende nada, não pensa em nada, não evolui e simplesmente não é nada. Aqui não existe vida e poucos que vem aqui ouvem o meu grito e podem escapar. A saída é para baixo, aqui você é leve porque sua mente está vazia, mas se enche-la de pensamentos poderá afundar. Passará a vida querendo voltar, sentindo saudades daqui. Todos os prazeres parecerão incompletos, mas a verdadeira satisfação está em alcançar tudo com as próprias mãos.

E o homem e seu cavalo foram emboras. Estava novamente sozinho no êxtase, e estava tentando pensar em algo, e derrepente lembrei de meu nome. Senti uma dor horrível e meu corpo afundou um pouco. A paarte do meu corpo imersa no êxtase líquido ardia, poderia facilmente esquecer meu nome e voltar ao prazer, mas não, queria sair dali. Aos poucos fui lembrando que eu era, da minha vida, das minhas amarguras, meus remorsos, meus medos, minhas frustações, os motivos pelo qual eu estava no inferno... Cada vez afundava mais, queimava mais, estava quase completamente submerso, apenas com a cabeça para fora, quando comecei a lembrar de coisas boas: minhas conquistas, meus sonhos, minha família, meus amigos, A pessoa que eu amo... E isso me fez afundar mais, a dor estava cada vez mais suportável. Conforme ia afundando as coisas ficavam escuras e geladas, mas lembrar de tudo que eu amo me dava forças para continuar a recuperar meus pensamentos, minha memória e minha identidade...

Então eu acordei numa cama de hospital. Eu sofrera um acidente gravíssimo, estava dado como morto, os médicos entraram em choque por eu ter voltado depois de dias em coma, com morte cerebral, mas estou vivo e inteiro.

Hanttu Monkeymann
Enviado por Hanttu Monkeymann em 17/01/2013
Reeditado em 13/04/2014
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