A casinha verde de Zé, o Duende

Zé, o duende, colocou sua casinha verde de caramujo debaixo da paineira. Ele conhece muitas veredas mas,nenhuma é tão linda quanto a vereda do sossego. Suas águas límpidas sob o céu azul do sertão formam um espelho claro que é muito lindo de se ver. De dia, reflete as nuvens brancas, de noite a lua prateada. Os aguapés,verdes e roxos, estão sempre tenros e vívidos, em suas margens as jaçanãs,os maneizinhos da lagoa, os ariris, as zambelês, os frangos d'água e a garça branca, que medita olhando o seu reflexo na água da lagoa, enfeitam ainda mais sua beleza. Os buritizais que refletem no espelho d'água da vereda, parecem querer tocar o céu, são palmeiras altivas e amam o vento que balança suas folhas. Zé gosta de se alimentar dos frutos do buritizeiro, frutos marrons de polpa laranja e cheiro embriagante. Zé vive muito feliz ali... Quando é madrugada, o céu tem muitas cores, os pássaros-pretos fazem festa para o dia, saudando o sol a trinar. Bandos de periquito-vassoura invadem os capinzais barurulhando, passarinhando, passarões...a inhuma a se reafirmar grululando: INHUUUMAINHUUUMAAA... Os jacarezinhos se deitam na areia branca para tomar sol,com a boca aberta engolem o calor solar. Meio dia, sol a pino, Zé deita em sua redinha de fibra para descansar. Acorda tarde, ouve a acauã, uma ave de rapina, um triste gavião. Zé chama a inhuma sua amiga, correm pela vargem, o cheiro do cerrado, os muricis, os grãos-de-galo, os saputás, o cajuzinho do campo, o araçá, o araticum... vários aromas entram por suas narinas, invadem os pulmões, a mente, seus olhos entram pelo verde dos carrascais... Zé flutua pela vereda do sossego... o bebedouro, os ninhais, o capinzal, os espelhos d'água, os pindaibais...o mundo... Zé a flutuar...

De noitinha, Zé pega a queena, sua flauta. Sentado em um cogumelo roxo, toca uma canção. As raposas nos carrascais, o lobo-guará, tímido, veio olhar, um mão-pelada, uma cuíca...Zé sopra sua flauta e acende a noite... vaga-lume... luzes flutuam pela vargem...Bergonzil, seu meio-irmão, chega e lhe traz um copo de chá. Zé beberica e, de pé, começa a bailar, vaga-lume voam ao seu redor.. Zé toca a flauta e o som que sai dela beija o céu... turbilhões...torvelinhos de ar... o éter- essência de que se fez todas as coisas...o pensamento alcança o espaço e começa a viajar... Zé, a flauta, o som, Bergonzil, o universo...tudo é um só...

Geraldo Rodrix
Enviado por Geraldo Rodrix em 07/01/2013
Reeditado em 21/01/2013
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