Miniconto "A desconhecida"

Uma coruja piava, agourenta, a poucos metros atrás de nós, seguindo-nos.

Estava escuro feito um breu, mas o alvo do seu vestido e de sua grinalda fazia com que eu a sentisse do meu lado. Andávamos por uma estrada desconhecida, eu e ela, estranhos um ao outro, de mãos dadas, naquela tenebrosa e gélida madrugada de inverno, tão fria quanto suas mãos. Cada toque dela me arrepiava a espinha, e seu corpo frio, exalando um forte cheiro de rosas, esquentava-se ao meu. Meus cabelos se arrepiavam, o corpo tremia, mas a vontade de tê-la parecia fazer com que eu fosse mais que um reles mortal.

E eu a tive (ou ela me teve). E depois ficou lá, na Mansão dos Mortos, acenando, dissipando-se pouco a pouco. Foi nossa mais bela (segundo ela) e única noite de amor.

Poeta do Riacho
Enviado por Poeta do Riacho em 09/05/2012
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