Coisas como intuição
Walter Ingram não acreditava em coisas como intuição e vidência, mas no momento em que o carro-tanque de sua equipe estava prestes a ser esmagado pelas mãos de um gigante desembestado, veio-lhe à mente uma frase. Parecia com sua própria voz, mas no momento o atirador do Raio de Zeus, a mais renomada frota de caça-monstros de todos os nove continentes, entendia-as como as palavras balbuciantes de uma criança. Melkor Ingram, seu filhinho de dois anos em algum lugar que ele jamais voltaria a pisar.
-Nos olhos... Atire nos olhos.
Ele assim o fez, sentindo as mãos como uma entidade em separado lançarem os canhões de disparo para cima e apertarem o gatilho. Uma série de estampidos e um berro horripilante de dor veio da fera, obrigada a diminuir o passo. Naquele dia, uma caçada aos gigantes do norte que quase terminou em desastre transformou Walter num herói, merecedor de todas as rodadas de álcool que pudesse tragar. E água pura, das melhores fontes... Coisa rara neste mundo perdido, outrora no ápice de seu desenvolvimento, cuja guerra alterou os cordões da realidade. Agora os resquícios desses homens, escravos da própria tecnologia, sobrevivem como podem aos monstros que suas próprias mentes conceberam desde os primórdios e uma arma molecular acabou por dar vida, direto de sua imaginação doentia. Diante disso, coisas como intuição soariam como as palavras dos deuses que ainda não viraram suas costas.