Conto postado a conselho do Mestre Miguel Jacó-Carlão ou O Clone
Carlão ou o Clone
Carlão soltou um palavrão, abriu um vozeirão quando soube, e soube na adolescência. Soube que era um Clone e, no pontapé entrou quase que arrombando a porta da casa do pai, de forma visivelmente alterada. E falou revoltado frente à família aturdida e surpresa com a descoberta tão habilmente escondida:
-E quem foi que pediu, quem foi que permitiu ou pediu que eu fosse clonado
deste sujeito ? E logo de alguém antipático e que eu não gosto?
O pai adotivo, boquiaberto, pasmado, quase caiu da cadeira ,pois que havia a combinação de manter o fato em segredo.
Outras experiências, outros clones já eram realidade na época e se verificou
habitualmente que quando descobriam ao se ver frente à frente com um homem em tudo semelhantes a eles a reação era de revolta e isolamento ou ódio a estas pessoas. Alguns mais conformados se deprimiam ,entrando em confusão mental,outros se tornavam delinqüentes, havia os que partiam para a droga e uma moça foi ao suicídio com uma camiseta exibindo as palavras “Direitos Humanos”.
Carlão foi cedo dizendo que a conversa entre ele e o pai dois tinha caráter
sigiloso e perguntando:
- E quando eu me apaixonar, quiser ter filhos e eles descobrirem que são filhos dos óvulos do um doador.? Que eu não sou pai deles, que eles não tem tios, tias, avós, nada, ou tudo era só de mentirinha? Hein? Ê o amontoado de aventais brancos que sempre me rodearam e somente neste momento entendo? E aí? E a minha mulher quando se rebelar porque não sabe a identidade real da pessoa com quem vai casar? Melhor então depois desta merda, pô, que merda vocês fizeram, que eu case com uma clone!? Uma clone?
Carlão enlouquecido passava as mãos pelos cabelos e estes conjuntamente com os olhos injetados de fúria se assemelhavam à juba de um leão pronto para atacar ,e prosseguiu:
E o psiquiatra que tenho? O sujeitinho nem passou esta experiência!E essa mãe que é mesmo minha mãe porque no mínimo me criou,uma a clara sem gema, eu não a suporto as vezes, principalmente quando fica a chorar mentindo que eu estive nove meses na sua barriga. Fico a imaginar como é que ela aceitou? De uma célula, sem ter homem, sem saber quem? Se minha mulher me faz isto eu a mato! Ou me mato! Vou cheirar como todos fazem! E daí? E como é que vou explicar:
-Querida, benzinho, eu sou um clone
Bah, a guria vai morrer na hora, vai desmaiar e eu vou me suicidar, vou viver sempre querendo me matar. Ou me mato ou mato os que me ludibriaram.Aqueles cientistas idiotas e suas revisões clínicas! Dando tapinhas na minha cabeça, como se desse para perdoar, se desculpar!
Bah! E quando esporreei a primeira vez! Que choque! E a cara dos médicos quando perguntei pelas células pai que me fizeram!.
E o medo que tenho de me tirarem um pedacinho para fazer um novo clone. O clone do clone! O cara ia saber toda a minha cabeça como é! Que horror! Saber como penso, saber meus planos escondidos ,íntimos. Puxa! Até o lugar em que pego um fuminho ele vai saber!
-Velho, eu me sinto mal quando vou falar com tua mulher. Sei que ela é como minha mãe, mas para ela também sou um estranho. Pô! Ela me bota uns olhos de horror quando começo a fazer perguntas!Agora eu sei porque! Melhor falar contigo que é fez todo este espetáculo,este teatro!Foi você que urgiu a trama de meus pais,meus avós,meus tios,primas,tudo! Como é que é hein, velhão?Tinha um rabinho muito comprido o teu espermatozóide, era corredor, fazia Cooper?Tinhas que provar sua masculinidade tendo um filho,mesmo que fosse falso,mesmo que fosse um clone?O pior ainda não me aconteceu .É! PÔ! O encontro com a célula ou o cara de quem sou clone,só o vi na rua esbarrei nele.
Eu já entrei com cara de mal amigo, sei, pai, sei que tu estas chorando aí porque de certa forma és meu pai ,mas não consigo deixar de ficar brabo. A minha brabeza aumentou toda na minha adolescência ,pai, vivo querendo esmurrar aqueles caras que me fizeram sem que eu quisesse e a teu mandado.E agora tu choras pai? O que vou pensar? Sou como um rato de laboratório, pai,é,é melhor que me vejas assim para nós os dois.
Depois do desabafo, Carlão foi para a Internet e escreveu este artigo (sem esquecer de escrever que dos dois ele era o de melhores sentimentos) de alerta...