Fogo
Um grupo de caçadores andava furtivo pela floresta, todos com suas espadas e machados em riste e arcos preparados para serem retesados ao primeiro sinal de perigo. Estavam buscando um ser que, de acordo com os rumores, cuspia labaredas de fogo em qualquer um que se aproximasse.
Eram homens altamente treinados em combate, rastreio e sobrevivência. A elite da região, mas nem por isso estavam preparados para enfrentar o que estavam indo de encontro.
Um deles, provavelmente o líder, pegou um punhado de folhas e as analisou. Estavam pisoteadas e era possível notar pequenos traços em brasa, alguns ainda quentes.
- Por ali! – ordenou, apontando uma direção – Ele próximo.
“Não é maior que um homem, e está sozinho.” Pensou o chefe, enquanto gesticulava para deixarem a formação furtiva de lado e atacassem com tudo.
Avançaram mais um pouco e, sem parar de correr, viram algumas folhas pegando fogo. Não deram importância e continuaram sem parar para analisar de forma mais detalhada os indícios da criatura, e um dos caçadores pisou em uma delas.
O grupo todo parou ao ouvir gritos desesperados de um dos colegas, e, ao virarem, a única coisa que viram foi o rapaz sendo engolfado para dentro de uma esfera flamejante do tamanho de uma árvore.
Um rastreador largou seu machado e tentou correr de volta a onde haviam vindo, mas não notara que uma das folhas inflamadas voara e agarrou-se nas juntas de sua braçadeira, que, ao ser pressionada pelo metal, explodiu em chamas, incendiando todo o corpo do desertor.
Antes que alguém pudesse esboçar qualquer tipo de reação, surgem do nada, duas lanças feitas de plasma flamejante, perfurando o peito de outros dois guerreiros. Entretanto, ao invés de simplesmente queimarem, começaram a derreter de dentro para fora, horrorizando parte do grupo.
Chocados com as cenas que presenciaram ninguém conseguia se mover. O cheiro de carne queimada impregnava o ar, causando ânsias de vômito nos caçadores que ainda viviam.
- Ora, diabos! – bradou o líder, aproveitado a pausa dos ataques e escondendo o medo – Somos guerreiros de elite! Podemos encarar isso. Encaramos qualquer coisa!
- Sim, senhor! – gritou um rastreador, em resposta a seu capitão. Os outros, se concordaram, o fizeram em silêncio.
Viraram-se, então, para onde as lanças de fogo haviam surgido, e viram um homem com mãos flamejantes caindo em meio ao ar, indo pousar as mãos no rosto de dois guerreiros. A pele derretia, os olhos murchavam, e, quando o estranho homem os soltou, não haviam morrido ainda, mas, tendo as vias respiratórias obstruídas, morreriam em poucos minutos.
O chefe do esquadrão tremeu. Já enfrentara inúmeras batalhas e nunca vira nada parecido. “O que é isso? Um tipo de demônio? Um ser de outra dimensão? Uma ilusão de um feiticeiro maligno?” se perguntava mentalmente “Não importa. Se puder ser atingido, pode morrer.”.
Com isso em mente, avençou em carga contra a abominação em chamas que estava a sua frente, estocando-lhe a lâmina perto do estômago.
- Morra, criatura - bradou o líder - Vamos homens! Ataquem!
Não houve resposta.
Os guerreiros remanescentes estavam horrorizados de mais para responder.
Quando o comandante puxou a espada do corpo do ser flamejante, não havia lâmina. Ela derreteu ao primeiro contato com a pele do homem de fogo.
Mas já era tarde para desfazer tal descuido.
Em um instante, as mãos inflamadas estavam tapando o nariz e a boca do capitão do esquadrão, derretendo e fechando todas as cavidades.
Dos soldados restastes, somente três, nenhum tinha coragem de atacar, ou até mesmo de fugir.
- Partam agora e os deixarei viver - a criatura finalmente mostrara sua voz - E digam que me mataram. Se quiserem provas, levem meu casaco.
Jogou um capote de couro vermelho para os caçadores, que o recolheram, agradecidos.
- Obrigado pela benevolência - disse o mais jovem dos guerreiros, indo se juntar aos demais.
Um sorriso brotou no rosto do homem de fogo, que agora tinha suas labaredas apagadas.
"Benevolência?" pensou, enquanto estalava os dedos e transformava o trio sobrevivente em um monte de cinzas "Não sei o que isso significa..."
Caminhou até a pilha em brasas, pegou seu casado, que ainda estava inteiro, e partiu, em direção à cidade mais próxima. Iria incendiá-la, assim como havia feito com as anteriores.