O MISTÉRIO DA ÁRVORE QUE LACRIMEJAVA

Jazia naquela cidade um jovem franzino, e com um hábito muito peculiar, ele era amigo de uma velha árvore escondida num lindo jardim. Todos os dias o jovem vinha e regava-lhe os galhos, cobertos de uma leve camada de flores joviais. O jovem conversava com a árvore sobre muitos assuntos, ela era como uma grande anciã, que fazia um voto etéreo de silêncio.

Cada vez que ele a visitava, estava mais revigorada e bela. A primavera estava chegando ao fim, e sempre os dois apreciavam o espetáculo do pôr-do-sol. No último dia das flores dominantes, o jovem resolvera visitar a vegetal amiga mais cedo, pois queria desfrutar do último dia da primavera. Aquele dia fora uma tela renascentista, os pássaros a exaltavam, as borboletas traziam pólens em sua oferenda, as aranhas teciam sonetos de amor. Ao aproximar-se o jovem ouviu o pulsar de um coração, e percebendo que aquele som ecoava de perto, observou que vinha da árvore, ela sentira sua presença...

O primeiro dia do inverno, sempre uma grande agitação na cidade, chegava a rainha e sua corte. O ar gélido combinava com sua personalidade, arrogante, fria e calculista. O jovem havia mantido sua habitual rotina, foi visitar sua amiga, que estava bem primaveril apesar do inverno.

Aquele jovem possuía uma inteligência rara, dominava como ninguém as artes, ciências, idiomas e uma habilidade de inventar maquinários. A rainha logo ficou sabendo das qualidades do jovem, queria uma máquina de guerra potente, pois ambicionava anexar territórios à suas propriedades, imediatamente o chamou. Ela lhe impôs a condição de ser o inventor da corte, caso não aceitasse morreria guilhotinado. Começara o seu doloroso cárcere...

Todos os dias era a mesma coisa, entrava de dia, saia à noite. A árvore já sentia em sua composição o peso da saudade. Perdera seu viço, suas folhas se entregavam ao ar gélido, o jardim cobria-se com a camada fria e branca.

Certo dia a rainha viera inspecionar o projeto do moço. Enfim pronto! Mas a rainha lhe propunha algo mais, ela o encheu de cobiça e ganância. Queria-o como inventor da corte, partira então para sua nova morada, e esquecera completamente de sua amiga.

No jardim tudo era triste, sem viço. A árvore estava coberta de gelo, em toda a imensidão do caule, aquilo que fora um jardim vivo, estava irreconhecível.

Terminara o frio desconsolado, havia um ano que a rainha partiu com sua corte. O verão chegava com sua glória e esplendor, todas as árvores começavam a descongelar-se. Mas o jardim da velha árvore era intocável aos raios solares. Duas crianças o acharam, eram alegres e levadas, começaram a correr e pular, o jardim retomava a sua beleza original. E quanto a árvore, descongelara, mas agora emanava um líquido corriqueiro, uma das crianças ao levar à boca uma das gotículas, logo alarmou, eram lágrimas!

As crianças a visitavam todos os dias, estava sempre bela e lacrimejante. Elas espalharam por toda a cidade a peculiar história da árvore lacrimejante. Aos amontoados as pessoas vinham confirmar o fato, e de tanto peregrinarem para vê-la, acabou se tornando um monumento, era a Praça da Arvore Chorona.

Com o passar do tempo, um senhor da corte viera à cidade para ver a árvore peculiar. O senhor se surpreendeu com a façanha, e instigado por uma familiaridade notória aproximou-se da árvore, e num instante melancólico começou a conversar com a árvore. Em seu ouvido ecoava o som que dificilmente esqueceria, a árvore ecoava batidas de coração. Num ímpeto de saudosismo os olhos encheram-se de lágrimas, e desenterrando palavras de muitos anos disse: - Velha amiga lembra-se de um jovem que sempre vinha te visitar. Ele fazia sempre companhia a vossa presença ao contemplar o espetáculo do pôr-do-sol. Venho avisar-lhe que após penosos anos, o arrependimento o arrastou a uma certeza inquestionável, a de que nunca de pode deixar a ganância cegar as amizades. Ele pede perdão, quer de volta o calor primaveril de seus galhos e flores.

O senhor abraçou a árvore, que subitamente parou de lagrimejar. Formava-se na extremidade de seu tronco o formato de um coração, ao cair uma lágrima derramada pelo velho, abriu-se no meio do coração uma linda rosa. Depois o velho disse: - Só as lágrimas do arrependimento são capazes de desabrochar a flor da amizade- e para não perder a doce prática, naquela tarde ficaram a contemplar o espetáculo do pôr-do-sol...

Tales D Millethus
Enviado por Tales D Millethus em 20/12/2010
Código do texto: T2683110
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