O Senhor das miragens

Pedro era um rapaz de bem. Não arrumava briga, e nem queria ter mais que ninguém. Trabalhava bem, era solteiro, mas ainda assim, tinha seus sonhos. Não mentia, não roubava. Mas estava cansado de as mulheres não correrem atrás dele. Queria só um carro, porque tinha que pegar ônibus todo dia.

Um dia enquanto voltava para casa, encontrou uma moeda no chão. Era uma moeda estranha, só tinha um lado desenhado, mas mesmo assim, ele a levou para casa. Era tarde, e Pedro estava cansado, lavou o rosto e foi dormir.

Estava em um lugar diferente, calmo, e tinha duas garotas olhando para ele, e sorrindo, como se o chamasse para a diversão. Sem ele perceber, a moeda brilhava no quarto. Foi pra perto das garotas, que agora o seduziam a um quarto escuro, um quarto familiar. Pedro teve uma das melhores noites de sua vida. Mas quando acordou, estava sozinho. "Foi um sonho" pensou. Levantou e foi de novo seguir seu dia. Quando abriu a porta, nem reparou na rua, só o que quis ver foi o carro dos seus sonhos lá, na sua frente, e mais outra garota lá dentro, que usava uma roupa colada, e sensual. Vidro fumê, uma linda mulher no carro, meia hora livre... "Uma rapidinha" pensou, enquanto a mulher fazia sim com a cabeça. Da janela de sua casa, um senhor com chapéu preto observava, sorrindo. Depois de uma hora, Pedro percebeu que estava atrasado, e ligou o carro, que disparou pela rua. Mais uma surpresa ao chegar ao estacionamento: a melhor vaga estava livre, só esperando por ele. No trabalho, o melhor de tudo: foi nomeado gerente. Estava tão feliz, que não reparou em nada, nem no fato de os colegas de trabalho, não serem os mesmos. Tinha garotas, carros, prestígio, e agora a gerência da empresa. E foi isso todos os dias. Até que um dia, ele viu que aquilo não estava certo. De onde vinham os carros, as garotas? Pensou ainda estar sonhando, mas aquilo era real demais. Deixou pra lá. Mas percebeu que seus amigos eram outros, sua rua era outra, sua vida era outra...

Correndo em seu carro pela cidade, reparou que a cada rua que passava, uma nova cidade parecia se formar instantaneamente. Acelerou, mas sempre que ia mais rápido, mais rápido a cidade se formava.

"Pobre Pedro, mal sabes que tudo que vês agora: as garotas, os carros, a cidade, é alimentado pela tua antiga vida, que em pensamentos, pediu-me para trocar e tuas velhas lembranças alimentam-me, junto com teus velhos amigos. Isto que tens agora é só uma ilusão, caro amigo, só teu corpo vive isso, pois teu espírito me pertence."

Pedro brecou o carro de vez, e começou a dar ré. Voltando seus pensamentos, tentando recuperar suas lembranças roubadas. Lembrou do último objeto que pegou, antes de tudo mudar: a moeda!

Existia uma lenda na cidade, de certa moeda, que só tinha um lado desenhado. Era uma face. E ela dizia que se alguém, de bem, encontrasse-a, teria seus sonhos realizados, e como Pedro não acreditava nisso, não ligou. Mas em troca, tudo que já possuía, iria ser dado em tributo ao Senhor das Miragens. O único modo de parar a ilusão era refazer tudo ao contrário do que ele havia feito no dia que encontrou.

Ele pensou, tentou lembrar-se de tudo, foi difícil, mas ele conseguiu: levantou da cama, sujou o rosto, estava descansado, levou a moeda para fora de casa, dessa vez a achou normal, olhando o lado sem desenho, jogou a moeda no chão. Ele tinha feito tudo ao contrário, mas algo estava errado, suas antigas lembranças não voltaram, e a cidade estava crescendo. Foi quando lembrou que tinha de voltar à empresa. Correu. Por sorte, encontrou a empresa, tinha pouco tempo. Quando ia correr pra lá, uma voz doce e feminina o chamou, ele ficou paralisado, e não resistiu ao ver a mulher. Não deu outra, o tempo dele acabou e a cidade foi totalmente tomada pela miragem feita pelo velho, e Pedro perdeu todas as suas antigas lembranças para o diabo, e foi fazer o restava a ser feito, passar mais uma noite com as garotas do mal.