A FIGUEIRA ORGULHOSA
Conta-se que em tempos remotos a natureza tinha seu livre arbítrio, assim os animais decidiam se iriam procriarem, as aves se teriam filhotes e as arvores se queriam ou não produzir frutos.
Nesta época a beira de um caudaloso riacho que cortava um vale verdejante havia algumas dezenas de figueiras que produziam frutos saborosos. Na época da florada era intenso o zunido das abelhas retirando o precioso néctar de suas flores, depois, os frutos e a fartura, os pássaros viviam empoleirados em seus galhos, alguns até faziam seus ninhos em suas copas frondosas e era alegria o tempo todo.
No meio de exuberante natureza, uma figueira observava tudo e negativamente, criticava a sujeira causada pelas aves, suas fezes, alem de sujarem seus galhos, exalava um cheiro desagradável pois ficavam espalhadas pelo chão entre penas e folhas da própria figueira, serviam para a proliferação de minhocas que as transformavam em húmus, não levando em conta porem que este húmus servia de alimento para elas, um fertilizante natural que as mantinham fortes e dispostas a produzirem cada ano, mais frutos, um decurso natural do meio ambiente onde viviam. Alem deste transtorno, observava a orgulhosa arvore que o zumbido das abelhas na florada e o gorjear dos pássaros ao amanhecer deixava a azoretada com a natureza, tanto é que decidiu nunca produzir frutos para evitar estes aborrecimentos me sua vida.
Assim, entrava ano e saia ano, a figueira permanecia sempre bela e limpa, suas folhas verdejantes, seus galhos impecáveis e livre dos barulhos infernais de abelhas e pássaros. O tempo passava e a figueira foi observando que apesar da beleza de sua ramagem, era solitária, vivia como que isolada das demais e quando se encontravam ( ... e naquele tempo as arvores também se encontravam e conversavam, contando uma as outras suas façanhas), notou que ela estava isolada do mundo, não tinha assunto e as outra arvores, preocupadas em viver bem seu ciclo, pouca atenção lhes dava.
Tudo isso levou a figueira a beira da depressão, embora preguiçosa e orgulhosa, achando ser a dona da verdade, resolveu fazer uma auto análise e percebeu que estava fugindo de sua própria natureza, assim, já cansada da vida de madame, resolveu certo ano que pelo menos iria experimentar produzir frutos e assim o fez.
A primeira florada foi uma festa igualmente seguida pela primeira vez que pode oferecer seus frutos a passarinhada. Achou muito estranho mas percebeu que tudo era, ao mesmo tempo, belo, reconheceu que ao viver recolhida em seu canto, sem partilhar sua existência, estava deixando de ser uma figueira e sendo apenas uma arvores qualquer vegetando sobre a terra.