Peregrino (p 2) Eclipse
Havia um pouco de luz naquele quarto escuro, ela dormia, apenas dormia, apenas uma experiência, a mais bem sucedida desde o inicio do projeto genoma, e ela, conhecida como projeto HS 253 foi a única que conseguiu sobreviver após o primeiro ano, com DNA completamente. Quase completamente
Diz-se que ela é imune a todas as doenças conhecidas, pois em seu corpo foram modificados os anticorpos, ela também tem assimetria, seu corpo é mais forte e rápido do que o corpo normal, e sua beleza era inquestionável., era o que pensava o Dr Icarus, enquanto perdia horas parado ali, observando suas reações. São quatro horas da manhã e eles estavam bombardeando o cérebro de HS 253, com estímulos, estímulos que trazem sonhos, era este o maior desafio atual dos cientistas naquele prédio no centro da cidade, e ninguém nunca imagina que aquele prédio, apesar de belo e chamativo guardasse uma coisa tão preciosa para a ciência, ali destinava-se a fazer da raça humana deuses, deuses capazes de criar do nada, mas HS 253 sonha, como alguém criada artificialmente e sem nunca ter tido nenhum contato com qualquer coisa, pois ela nasceu dormindo e permanece assim a mais de quinze anos. Seria isso que chamavam de memória genética?
Mas isso definitivamente não importa somente seu sonho importa em seu sonho ela dança a musica que conta uma lenda, ela dançava com lobos, lobos e o povo selvagem, os guardiões desse mundo, ela dança ate a exaustão, e depois de contar a lenda do paraíso prometido pela mãe, ela se senta, cansada, ela é rodeada pelos filhotes de lobos que brincam e radiando a dama da lua, aqui ela é conhecida pelos antigos de Francielle. Mas depois quando resolve se deitar perto da fogueira, ela percebe que o chão esta mais duro, frio e negro, o cheiro da terra molhada é substituído por um cheiro horrível, fumaça, coisas podres. E assim ela olha em volta e odor seu mundo não existe mais, ela pode ver fogo, pode ver os filhotes morrendo, tendo tempo apenas de salvar um, o filhote branco esta em pânico nos braços da jovem escolhida e dali eles correm rumo à escuridão fugindo do fogo que mata seu mundo.
Um sutil alarme é disparado, as funções vitais de HS 253 estão desordenadas, ela não sonhou e sim teve um pesadelo, ela esta em estado de sono REM, isso quer dizer que o sonho é quase real, ao menos é o que constata o Dr. Icarus, ele trabalha nesse projeto a mais de vinte anos, dedica sua vida inteiramente a este projeto, isso lhe custou sua família, a menos de um ano sua esposa se cansou das madrugadas frias e foi embora, e assim Dr. Icarus teve mais tempo para se dedicar ao projeto HS 253.
Mas as ondas cerebrais do clone se intensificam ate sobrepujar as doses de sonífero e finalmente o cientista pode presenciar de perto o despertar da menina, ela estava chorando e ele não sabia o que fazer. Separados por uma redoma de vidro, ele pode ver os olhos de cores diferentes, um era totalmente amarelo enquanto o outro era de um azul límpido e belo, ele estava nervoso em nenhuma das simulações ela corria risco de acordar.
* * *
Próximo dali Moytoy estava deitado, tentava dormir, mas sonhou com o fogo que matara sua matilha quando ainda era filhote, a partir dali foi criado pelo espírito de seu avô, foi ele quem lhe contou que o destino deste lobo branco era achar o caminho para o Paraíso, o nome dele era Mohawk, e mesmo em espírito soube dizer para o pequeno Lobo, como seguir sempre em frente, como não desistir de chegar a sua sonhada Nunavut esse nome significa na língua dos antigos, “Nossa terra”. Algo invade Moytoy quando ele acorda, ele sentia mais forte do que nunca antes havia sentido, ele sentia o cheiro da Lua, olha para cima, mas não vê a Lua, ele percebe que este cheiro, o cheiro da Lua vinha de dentro do maior prédio da cidade, mas ele sabia que era ali que estava seja la o que for que o levaria para sua Nunavut, disparado o Lobo ruma naquela direção.
No meio do caminho a surpresa, ele toma de cara com Cochise, mas não é assim tão surpreendente, ele sabe que o cinza também veio atrás do cheiro da lua, quando estão frente ao Prédio, eles se encontram com mais um lobo, este tem tom pardo e é menor que os dois grandes lobos Cinzento e Branco, este por sua vez é bastante gordo e seu pelo não demonstra nenhuma falha, de certa forma percebe-se que a vida deste é um tanto diferente.
_Você também sentiu esse cheiro?_Moytoy quebra o gelo, pode ver nos olhos do lobo que mais se parece um cachorro domestico, que ele faz a mínima idéia do que esta acontecendo.
Espantado por não ter percebido os dois imensos lobos, algo que ele não via a muito tempo, dois de sua raça, ele estava confuso mas tenta manter a sagacidade que sempre lhe foi marca registrada:
_Estou, mas por que não me contam por que raios estou aqui?
_Veio atrás da Dama da lua, como nós dois.
_Quem?
_Esquece garoto, aqui não é lugar para um cachorro domestico, volte para casa, não há nada para alguém como você aqui. _Cochise estava igualmente confuso, e sua característica principal quando ele não tem o controle da situação é ser extremamente grosseiro, so se via três grandes cães rosnando entre si, mas sem se atacarem.
Antes mesmo de o lobo menor responder, Moytoy já corria para dentro do Prédio usando uma entrada lateral e derrubando o desavisado vigia. Cochise o segue logo em seguida deixando assim o mais novo com bastante raiva.
Nada difícil chegar ate o lugar que pretendiam, não tiveram que matar ninguém, estavam todos distraídos, e enfim eles puderam chegar ate o andar onde era confinada aquela que Moytoy iria chamar de Francielle a Dama da Lua. Porem o mal já estava acordado e esperava os três lobos junto à redoma de vidro, eles por um instante se viram frente a um Lobo completamente negro e colossal, muito maior que Moytoy, mas em um piscar de olhos, ele era um homem, jovem, distinto em seu caro terno, e ele traziam a Dama em seus braços, ela estava desacordada, e ele sorria ao ver o trio entrar na sala.
_Obrigado lobos. _Sem tempo para reação, uma luz cegante, e quando conseguiram distinguir sombras de luz, não havia mais ninguém naquela sala, apenas os três lobos, sem saberem ao certo o que houve, ou por que já odiavam tanto aquele homem que apareceu diante deles.
Suas indagações pessoais são dissipadas quando o Dr. Icarus entra na sala, e rapidamente ele é quase atropelado por patas que correm desesperadas para a saída, deixando o cientista louco e desesperado quando percebe que sua experiência havia desaparecido. Os cães chegam na rua, apenas a tempo de observar o grande carro que desaparece naquelas ruas sujas, mas ainda sentem o forte cheiro da donzela vindo daquela maquina infernal.