Aulas de dança
Aprendi a dançar por causa de Dilma, filha de um detetive do bairro; naquele tempo, a polícia civil era mais distinta. Filha única e bem criada, era sobrinha de um amigo de meus irmãos e, anos depois, veio a ser cliente de um deles. Lá pelos meus dezesseis anos, o Bira faria uma festa de aniversário e convidou a Dilma...Esqueci de dizer, que era interessado nela sem qualquer reciprocidade...Achei que dançando, poderia tê-la em meus braços; pedi a uma empregada de minha mãe, a Paulina, que me ensinasse a dançar e dei o prazo de um mês...Paulina era doublé de cozinheira e pé de valsa...Quando minha mãe chegava dava as maiores broncas, pois, achava que eu prejudicava o bom andamento dos serviços domésticos...De fato, aprendi a dançar e depois com a prática fiquei um bom dançarino...Rodopiava pelos salões do Rio, o que matava meus amigos de inveja, porque eles deixaram de ser absolutos nos salões...Voltando ao assunto do Bira...Chegou o dia da festa e a Dilma compareceu, mas, pra meu desgosto, não sabia dançar e não aceitava os convites, que lhe eram feitos...Esqueci a Dilma e continuei dançando e me aperfeiçoando pelos salões do Rio - Cassino Atlântico, Botafogo, Sociedade dos Empregados do Comércio, Contabilistas, Casa do Estudante, Clube Militar e muitos outros lugares, onde a classe média tinha acesso e eu gastava as solas dos sapatos, embora os pisos super encerados, facilitassem os rodopios. O tio da Dilma me colocava no ombro, quando eu tinha uns oito anos, e me levava com o grupo para assistir os ensaios da escola de samba Caprichosos dos Pilares e Recreio de Inhaúma; eu não era bom de andanças. Na década de sessenta, ele teve um infarto, ainda moço, doença da qual veio a morrer, por absoluta falta de cuidado com o que sobrou da saúde. Em plena fase aguda do infarto, com dor persistente, resolveu sair para recolher o pedágio dos espanhóis donos dos hotéis da Barra, segundo o próprio. Naquela época, os motéis não podiam ser freqüentados, pois, a polícia prendia os que lá estivessem, colocando-os “pelados” nos camburões, para caracterizar a prisão em flagrante do proprietário, por exploração de lenocínio. Como as coisas mudaram!