O Futebolista - fantasias do futebol *
Joca não gostava muito de correr; nem precisava! Causou um grande reboliço nos clubes em que atuou, pois, era necessário que se aliassem e mudassem algumas regras, para que não houvesse muita diferença entre eles. Disse que não era necessário que corresse, porque se ficasse parado em qualquer setor do campo, aquém ou além da intermediária adversária, chutava de maneira indefensável para qualquer bom goleiro da época. Certa ocasião chegou a brincar, dizendo que faria o Mudo falar! Mudo, neste caso tem de ser em maiúscula, porque o goleiro era mudo; num violento chute da intermediária fez, de fato, o goleiro produzir um grito sufocante e cair com bola e tudo para dentro da meta. Pobre do Dica, goleiro do São Cristóvão, que numa falta da intermediária ordenou: deixe livre! deve estar procurando até hoje por onde a bola entrou. Criou-se um grande problema nos clubes por onde passou; achavam que era covardia o time escalar Joca, que poderia a qualquer momento mudar o rumo de um jogo, marcando quantos gols entendesse, ainda se divertindo a valer; contemporâneo de Zizinho, seu colega de clube numa ocasião, só permitiu a ascensão do grande craque, quando saiu do Flamengo para o Botafogo. Tudo aquilo que se falava sobre o jovem Garrincha, poderia ser creditado a Joca, com suas diabruras em campo; mais feliz foi Pelé, que só conseguiu ter reconhecido 1000 gols em toda sua vida de profissional, porque depois de algum tempo, os gols de Joca só entravam nas estatísticas com peso 0,1; isto é, para chegar aos 1000 gols de Pelé, teria sido necessário marcar 10.000; levando ainda em consideração, que de acordo com os clubes, os árbitros passaram a limitar seus gols a 2 por partida, sendo um em cada tempo do jogo, anulando qualquer outro que não se enquadrasse no acordo. Fato curioso, foi sua passagem pelo clube mais fraco do Rio, acostumado a perder de 10 a zero para os grandes, e que de repente, com os gols assombrosos do craque, passou às primeiras colocações, só não sendo campeão, porque o tapetão decidiu anular alguns resultados, pois, só era permitido escalar o citado jogador a cada 5 partidas, fazendo com que o clube perdesse muitos pontos covardemente. O mais curioso foi o encontro com Yashin, o goleiro comuna, que durante uma excursão ao Brasil, foi escrachado por Joca, que de fato extrapolou! houve pênalti contra o Dínamo de Moscou e pediram que Joca o batesse; concordou, desde que a marca do pênalti fosse recuada de 20 metros, pois, tinha receio de criar um caso internacional, produzindo alguma lesão no goleiro. Discutiram daqui e dali, até que chegaram à conclusão, de que se ele quisesse bater o pênalti de mais longe não seria problema; conclusão: Yashin a Aranha negra, conseguiu segurar a bola, mas devido ao efeito e potência do chute, entrou em parafuso sem largar a bola, e foi parar dentro do gol, tonto, sem entender nada, e falando em pegar o metrô em Moscou; saiu pior a emenda do que o soneto, e o Dínamo retirou o time de campo, reclamando junto à FIFA, que puniu o jogador com suspensão de partidas oficiais pelo prazo de 20 anos, o que significava dizer, tê-lo banido do futebol; as federações e clubes foram condenadas a tirar seu nome dos arquivos, sob pena de exclusão da Federação. Este é o motivo pelo qual não se encontra registro da passagem do jogador pelos grandes ou pequenos clubes, sendo mantido sob reservas, nas lembranças dos jogadores que aprenderam com ele o essencial, como os contemporâneos Mestre Ziza, Jajá de Barra Mansa, Pirilo, Julinho e muitos outros; fiquei penalizado com Heleno de Freitas, já veterano, que sem conseguir assimilar o efeito que Joca colocava nos chutes, endoidou de vez e precisou ser internado num sanatório em Minas Gerais, onde acabou morrendo; mesmo gostando muito dele, achei uma grande sacanagem feita com o Brasil, ou melhor, com a seleção brasileira em 1950, ensinando previamente a Gighia o efeito que deveria colocar na bola ao chutar ao arco de Barbosa, tirando o campeonato mundial dos caboclos. Eu disse que ele não gostava de correr, mas não expliquei o porquê - achava covardia dar os piques em alta velocidade, fintando quem aparecesse, reservando essa técnica apenas para quando o time estivesse em desvantagem numérica, por exemplo, tendo 3 jogadores expulsos de campo; ai sim, dava para fazer um esforço maior. Uma das coisas que eu mais gostei foi o recado que ele mandou para Pelé, ainda com 16 anos, que tinha jogado contra o Flamengo no Maracanã vestindo a camisa do Vasco - livre-se dessa camisa e você vai fazer história como o maior craque do futebol mundial, meu sucessor; não pude ser por causa das perseguições da FIFA já citadas. Como não importam os fatos, mas a versão, dou meu testemunho de sua carreira esquecida pela inveja dos cabeças de bagre, como os que militavam e militam nos campos brasileiros e europeus; acredito, que Zico quando lhe autografou o quadro - 50 anos de fanatismo rubro-negro, reconheceu ser importante para seu currículo, aquele gesto de reconhecimento. Quem duvidar do que eu digo, que pesquise e procure nos escaninhos da antiga CBF a verdade dos fatos, salvo se Jean Havelange tenha mandado incinerar a documentação!
* Texto de fantasia, onde todos os nomes citados, o foram numa homenagem à arte do futebol - inclusive o de Joca!