Comédia

Não sei porque tinha mania de sapatos apertados; tenho impressão, de que era por causa do hábito antigo de se fazer velórios dentro das casas, sobre a mesa de jantar; o defunto ficava estendido com pés enormes na vertical...Sendo muito curioso, ia aos velórios e os pés do morto virados pra minha cara...Os pés adquiriam proporções gigantescas e me assustavam. Por outro lado, apreciava a história das japonesas que usavam sapatos de ferro para que os pés não crescessem. O fato concreto é que cansei de estragar sapatos, porque os comprava menores que meus pés, e se tornava uma tortura calçá-los; tenho inúmeras histórias de sapatos apertados, como a visita a Ricardo de Albuquerque pela linha auxiliar, e a visita ao Tender Ceará. Não sei pra que a Marinha tinha um Tender, se nem submarino tinha! Caminhei pela Avenida Marechal Floriano em direção à Ilha das Cobras, onde o navio estava ancorado; fiquei com grandes bolhas nos pés, e ao voltar transformei os sapatos, que eram novos, em chinelos. Todavia, o mais curioso foi o episódio da formatura do CPOR; eu com lustrosos sapatos de verniz, empunhando um espadim, e o sol queimando os pés me levando à loucura; estavam em brasa e pensei que fosse desmaiar; estavam presentes as autoridades, incluindo o Presidente Getulio Vargas; eu precisava esperar sermos declarados oficiais para sair de forma; se eu saísse de forma antes perderia o direito ao oficialato...Logo após a proclamação, retirei os sapatos e meus pés aliviados pisaram o gramado do estádio do Vasco da Gama...Anos depois tomei jeito e deixei de usar sapatos de bico fino. Muitas vezes eu compro um sapato depois desgosto; aconteceu com um sapato com penduricalhos que usei para assistir à récita do Plácido Domingo; ridículo! No dia seguinte limei o metal e transformei o feitio do sapato, sem pagar royalties ao Mr.Cat. Aos 14 anos, vivia namorando uns sapatos especiais de camurça verde, que vegetavam numa loja suburbana; obviamente, minha mãe jamais o compraria, pois, poderia servir às minhas maluquices românticas, mas não ao colégio; mas, isso é outra história! Hoje se fala em tênis nike etc. àquela época, o charme era o basket, tênis pelo qual eu tinha verdadeiro tesão!