Donna I

Chamas escorrem pelo peito,

Cada gota daquilo que era bom se esvai e vai descendo pelo ralo do banheiro.

Sobre orquídeas, cores do horizonte e rosas de cores impossíveis eu só lembro de frases e palavras, em sua maioria sem nexo algum.

Pelos dedos caem lembranças em forma palavras, a cada minuto já não me lembro mais do que passou, e nem mesmo do que um dia desejei que se passasse.

O que um dia foi uma bela composição com cores de encher os olhos, se tornou cinza e sem vida, hoje não passa de uma pintura disforme, um preto e branco sem meio tom, sem nenhuma nuancei de cor.

Sinto-me como nas páginas de uma revista em quadrinhos, sin city talvez, caído no chão num cenário de um banheiro imundo, debruçado sobre uma privada, acompanhado apenas por moscas que provavelmente estejam aqui esperando minha carne apodrecer.

Na janela surge um pequeno ser, com um canto poético e sincero.

_Poético e sincero...

Com penas belíssimas e cores vibrantes

_Belíssimas... e Cores...

Que belo era aquela pequena vida, saltitante e alegre, algo de encher os olhos de alegria.

_Alegria...

_você merece um nome, como posso te chamar? Donna, sim, um belo nome.

Saltitando Donna veio para perto de mim pulou em meu joelho já machucado pelas suplicas e preces e cantou seu belo canto.

Ah... eu sentia ali o peito ferver, mas não entendia como, pois todo meu ardor já havia descido pelo encanamento velho e enferrujado daquele banheiro.

_Que cores diferentes, nunca havia visto algo assim, até então achava impossível.

Sorrindo fiquei admirando Donna, como era bela, sua presença me acalmava, tudo em sua volta se tornava lindo, era como se dela emanasse luz e tudo fosse ganhando vida.

_Dona me trouxe vida...

De repente Donna deu um salto e bateu um pouco suas pequenas asas, subiu na pia de mármore encardido, me olhou bem fundo dos olhos, virou a sua cabeça de lado como quem lesse a minha alma, soltou apenas uma nota e voou, voou para fora pela mesma janela que entrara.

Por alguns dias Donna vinha me visitar, sempre me sentia confortado quando ouvia seu doce canto, alguns me aconselhavam em tentar convence-la em ficar ou prende-la em uma gaiola, mas preferi não fazer isso. _Donna deve ser livre! e se ela resolver ficar por aqui será bem vinda, mas não tenho nada a oferecer, a não ser devolver a ela um pouco do que ela me deu; sorrisos, o peito em chamas, as cores da minha vida, a esperança no impossível, a poesia verdadeira, a minha vida...

Eu posso apenas, devolver a ela, tudo aquilo que ela despertou em mim.

_Donna...

Fabio Aleixo
Enviado por Fabio Aleixo em 07/01/2010
Código do texto: T2016109
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