Gene X
Bom pessoal, tudo bem?....aí está uma história(de algumas que já iniciei) que ainda não concluí...principalmente por não acreditar muito em minhas capacidades como escritor muito amador....espero que seus comentários me dêem força pra continuar...abraços.
Artur abriu os olhos com dificuldade. A única coisa de que se lembrava era do vulto de um homem que aparentemente lhe apontava algo. Logo após tudo virou um mar de trevas com o ribombar de um trovão. Não sabia por quanto tempo tinha dormido e não sabia onde estava exatamente, pois o local estava escuro e fazia um pouco de frio. Sabia que estava numa cama, por sinal muito confortável e com lençóis macios, e procurou levantar-se para buscar um interruptor de energia, se é que tinha um no local. Seu corpo estava dolorido e sua cabeça doía muito e sentia um pouco de náuseas, o que dificultava seu caminhar. Saiu tateando as paredes até que achou o interruptor e acendeu a lâmpada, iluminando o lugar.
Estava num quarto sem janelas e com poucos móveis, mas bem arrumado. Um ar-condicionado estava ligado com um leve e gostoso ruído. Além da cama, um guarda-roupa, uma estante com alguns livros, um tapete redondo e um pequeno frigobar completava a decoração. O quarto tinha duas portas. Artur caminhou em direção à porta que pela disposição seria a da frente, pois a duas eram exatamente iguais. Checou a maçaneta. Estava trancada. Olhou ao redor e começou a procurar por uma chave. Revirou tudo e nada encontrando um pensamento lhe veio á mente. E se tudo aquilo não passasse de uma enganação e ele estivesse em algum tipo de instituição para menores ou coisa parecida. Afinal, apesar dos seus quinze anos, ele não era um exemplo de bom garoto.
A sensação de estar preso o estava deixando tenso e sua dor de cabeça começou a aumentar. Correu para a outra porta. Esta estava aberta e dava pra um banheiro pequeno com toalha e alguns utensílios de higiene colocados sobre a pia. Tinha também um espelho de corpo inteiro pendurado na parede. Olhou-se e estava tudo no lugar. Seu corpo de 1.70m e levemente atlético, com seus 65 kg, ainda estava dolorido e seu rosto estava com uma aparência terrivelmente cansada. Percebeu uma cicatriz no lado direito da cabeça. Tocou-a tentando lembrar o que poderia ter acontecido. Será que tinha sido ferido por alguém ou se acidentado de alguma forma?
Artur sentiu sua dor de cabeça aumentar de repente para um nível quase insuportável. Colocou as mãos sobre a cabeça como se quisesse impedir que ela explodisse. As náuseas vieram com intensidade e ele cambaleou e quase caiu no chão frio e polido do banheiro, mas conseguiu se apoiar na pia. Não agüentou e se agachou, apoiando-se com um dos joelhos no chão e com as mãos ainda sobre a cabeça. Com dificuldades conseguiu se erguer e caminhar até a cama. Antes de chegar sentiu uma pontada aguda de dor que o desequilibrou e o fez soltar um grito. Após isso algo aconteceu com muita rapidez. Uma força pareceu empurrar a cama, o guarda-roupa e a estante de uma só vez contra a parede, causando pequenos estragos. Neste instante a porta se abre e dois homens vestidos de branco, parecendo enfermeiros, entram no local apressadamente. Sem dizer nada eles o ajudam a levantar e o colocam sentado na cama. Um deles se afasta e começa a colocar os móveis no lugar. Artur enxerga com dificuldade a entrada de um terceiro homem, também vestido de branco, portando o que parece ser uma seringa. Ele escutou uma voz tranqüila e suave.
--- Calma garoto, vai ficar tudo bem – disse ao mesmo tempo em que injetava no braço de Artur um líquido transparente --- Com essa medicação sua dor de cabeça vai passar em alguns minutos, não se preocupe.
--- Onde estou? O que esta acontecendo? – indagou Artur.
--- Suas perguntas serão respondidas, não se preocupe. Mas num outro momento. Por enquanto deite-se e procure descansar um pouco ok.
Artur sentiu uma profunda sonolência tomar conta de si e sua visão foi escurecendo e ele caiu num sono profundo.
Artur despertou depois de um sonho ruim onde estava sendo perseguido por um grupo de pessoas num beco escuro. Elas o ameaçavam com palavras de ódio e estavam armadas com paus e facas. E antes que elas pudessem pega-lo, despertou. Ficou aliviado por ainda estar na segurança do quarto, mas ainda estava com o coração acelerado por causa da sensação de medo. A experiência pareceu bastante real. Levantou-se da cama e foi lavar o rosto no banheiro. Olhou-se no espelho e sua feição estava melhor, menos cansada e seu corpo não doía mais. Não sabia se tinha sido o sono, pois no quarto não havia relógio para saber o quanto tinha dormido, ou se tinha sido a medicação aplicada, mas pelo menos suas forças tinham voltado e ele se sentia bem melhor. Enquanto mergulhava em pensamentos, olhando para o espelho, sobre como e quando veio parar neste lugar, a porta do quarto fecha repentinamente. Artur dá um passo rápido para fora do banheiro e se depara com o mesmo homem de branco que lhe aplicou a injeção parado em frente à estante e olhando despreocupadamente um dos livros. Percebendo que Artur olhava para ele resolveu quebrar o silêncio.
--- Vejo que já está recuperado. Sua feição parece bem melhor esta manhã – observou o homem.
--- Quem é você? – perguntou Artur expressando um ar de desconfiança.
--- Não precisa fazer essa cara. Pode me chamar de doutor Otávio – disse enquanto caminhava na direção de Artur. Estendeu a mão para tocar o ferimento na cabeça do garoto, mas Artur deu um passo para trás. --- Calma, eu só quero verificar essa cicatrização – disse pegando a cabeça de Artur delicadamente e a virando para observar melhor o ferimento. --- Bom. Parece muito bom mesmo – avaliou o doutor enquanto pegava um caderninho e fazia anotações.
--- Você é médico? – indagou Artur.
--- Sou sim. – respondeu doutor Otávio --- Olha Artur, espero que este seja mesmo o seu nome, como eu já falei antes, não se preocupe, você agora esta num lugar seguro e com ótimos profissionais cuidando de todos vocês.
--- Todos vocês? Quer dizer que não sou o único aqui então? – perguntou Artur.
--- Não. Outros nove garotos estão aqui dentro como você – respondeu doutor Otávio.
--- E que lugar é este afinal? – perguntou o garoto --- Se for algum tipo de prisão eu tenho o direito de saber – completou com certa irritação.
--- Não, não. Não é prisão alguma – respondeu o doutor tentando acalmá-lo e continuou --- isto aqui é um centro clinico de reabilitação. Iniciamos nossas atividades há algum tempo e procuramos trabalhar com pessoas especiais como você. Essa é nossa intenção. Alem do mais salvamos suas vidas também – concluiu.
--- Minha vida nunca precisou ser salva – retrucou Artur – Sempre me virei muito bem nas ruas e nunca precisei de ajuda – falou com orgulho.
--- Eu imagino que você saiba se virar muito bem sozinho – disse o doutor Otávio --- Mas acredito que da forma como o encontramos, jogado num beco escuro e agonizando, você teve um baita azar nesse dia meu amigo. Tivemos um trabalho considerável pra estancar a hemorragia sabia? O disparo só não te matou porque, como eu disse, só cuidamos de pessoas especiais. E você é uma pessoa especial – falou o doutor com um sorriso no rosto enquanto colocava a mão no ombro de Artur.
As palavras do Doutor Otávio soaram como uma martelada para Artur. Tocou a cabeça e sentiu mais uma vez a marca considerável do ferimento. Seriam verdade aquelas palavras. Alguma coisa de muito grave tinha acontecido com ele. Isso explicaria o sonho que teve, em que alguém, que ele não conseguia lembrar, mas que na certa parecia não gostar muito dele apontava algo em sua direção. Logo depois Artur escutava um som que parecia um grande trovão. Por um momento tudo pareceu se encaixar. Não era um trovão e sim o disparo de uma arma. Alguém tentou acabar com sua vida e deixá-lo pra morrer num beco escuro da cidade. De repente escutou no fundo da cabeça o ruído de uma arma sendo disparada. Deu um rápido suspiro tremendo o corpo, como se estivesse despertando de um sonho, e voltou à realidade. O doutor Otávio ainda estava a sua frente segurando seu ombro.
--- Você passou por um momento difícil garoto – disse doutor Otávio percebendo que Artur estava abalado com as descobertas --- Mas não se preocupe, tudo vai ficar bem de agora em diante – disse --- Vamos, chega de papo, troque logo de roupa senão vamos nos atrasar para o café da manhã. Você deve estar com fome não é? – perguntou sorridente o Dr. Otávio. Artur balançou positivamente a cabeça --- Então se mexa, pois seus novos amigos estão esperando. Eu espero do lado de fora.
Enquanto o Dr. Otávio saía pela porta, Artur colocava uma calça jeans e uma camiseta branca. Procurou o que colocar nos pés e achou um par de tênis novos num compartimento do guarda-roupa. Para Artur tudo parecia perfeito demais neste lugar. Roupas novas, cuidados médicos, um belo quarto e uma pessoa que parecia se importar com ele. Coisas que nunca teve na vida. Passar os primeiros anos de vida num orfanato e depois encarar a vida nas ruas resume a sua história. Agora esta mesma vida parecia sorrir pra ele. Mas se tudo isso não passasse de uma grande armação, saberia dar um jeito de fugir. Sempre soube.
Artur saiu do quarto e acompanhou o doutor Otávio por um corredor parecendo de um hospital. Cinco portas, separadas a uma certa distancia, estavam dispostas em cada lado do corredor e possuíam nomes em cada uma delas. Toda a estrutura lembrava muito um hospital, com paredes brancas, piso bem limpo, alguns homens e mulheres, todos de jalecos brancos, circulando, conversando e fazendo anotações em pranchetas. Enquanto caminhavam, o Dr. Otávio ia apresentando Artur aos seus colegas de branco, que sempre se mostravam educados e sorridentes. A única diferença é que não se via nem macas nem equipamentos médicos pelos corredores. Num certo ponto Artur começou a ouvir vozes que pareciam alegres e que vinham do lado de dentro de uma sala com porta dupla no final de um corredor. Ao se aproximarem a porta se abre de uma vez e uma senhora de jaleco sai apressada.
--- Como vai doutor? – perguntou sorridente.
--- Bem Marlene, obrigado – respondeu Dr. Otávio. --- Como vão os garotos? Estão se comportando? – indagou.
--- Estão mais tranqüilos do que em outros dias – disse. Ela olhou para Artur com ar curioso. --- ah, então este deve ser o Artur não é mesmo. Como vai meu querido? – perguntou com um tom bem amável.
--- Vou bem, obrigado. – respondeu Artur. Estava se sentindo constrangido perto da senhora Marlene. Ela parecia olhar pra ele como se estivesse olhando um bebê. Artur não gostava de ser tratado como criança.
--- Bom, vamos andando ou não vai sobrar nada pra você. – falou doutor Otávio enquanto abria a porta da sala. Era uma espécie de refeitório com uma grande mesa no centro onde nove pessoas, garotos e garotas, estavam sentados e conversando, quando foram interrompidos pelo doutor Otávio. --- Muito bem pessoal este aqui é o Artur, como vocês devem saber. Dêem as boas vindas a ele e se comportem. Isso vale principalmente pra você Marcelo. Vejo todos vocês no mini-auditório. Vocês têm uma hora pra terminar esse café. Não se atrasem. – depois que falou cumprimentou Artur com um sorriso e saiu pela porta.
--- Vamos, não fique aí parado – disse uma garota loira de belos olhos azuis. --- Sente-se à mesa e coma. Sugiro o bolo de milho, está uma delícia – comentou. --- ah, desculpe, meu nome é Ana e o seu é Artur certo? – disse sorridente.
--- Sim, me chamo Artur – respondeu estampando um sorriso amarelo.
Os dez conversaram sobre muitas coisas aparentemente banais como preferências e manias. Por um tempo pareciam que estavam num refeitório de colégio, tamanha era a descontração e o tipo de assunto. Apesar das diferenças, Artur, pelo pouco que observou, percebeu que se identificava com todos na mesa, principalmente no referente às histórias de vida. Todos tiveram, assim como ele, uma vida difícil de solidão, maus tratos e incompreensão. Mas todos procuravam superar da melhor forma possível. Artur ainda buscava a sua.
Todos estavam com uma boa dose de auto astral. Ana, Maria, Tarcila, Miguel, Pedro, Gabriela, Carlos, Roberto e Marcelo. Para Artur, todos, dentro das suas diferenças, pareciam pessoas legais. De todos, o Marcelo era o mais carrancudo e de pouca conversa. Tinha uma feição séria e um olhar que buscava sempre intimidar, escondendo uma total falta de entrosamento social. Ele talvez fosse o que pudesse causar mais problemas, pensou Artur. E foi justamente Marcelo que resolveu perguntar algo intrigante.
--- E aí Artur, qual é sua habilidade genética? – Marcelo olhava fixamente nos olhos da Artur.
--- Habilidade genética? Como assim? – indagou Artur de forma confusa.
--- É, vejo que o Dr. Otávio ainda não explicou o real motivo pelo qual esta aqui. – disse Miguel.
--- Olha Artur – falou Maria --- Todos nós estamos aqui porque possuímos habilidades especiais. Uma espécie de super-poder que o nosso sangue...
--- Cadeia genética – interrompeu Miguel, corrigindo a amiga.
--- É, esse negócio mesmo – continuou Maria --- E essa tal cadeia genética é que nos torna tão especiais. Só não sei como isso acontece – concluiu sorridente.
--- Pelo que eu entendi em conversas com o Dr. Otávio, a verdade é que não existe mudança nenhuma – disse Miguel --- Nossa cadeia genética permanece a mesma. O que acontece é que temos uma espécie de gene especial que acorda em algumas situações que não sei quais – explicou.
--- Lá vem o espertinho metido a cientista – reclamou Marcelo.
--- No dia que você passar a usar seu cérebro vai entender o charme da ciência – retrucou Miguel.
--- Esta me chamando de burro, seu pirralho – vociferou Marcelo levantando-se e fazendo um gesto ameaçador com o punho. Era o maior garoto da turma, na verdade muito maior que a maioria dos garotos de sua idade. No alto dos seus 1.85m tinha uma musculatura definida, pois gostava de exercícios físicos, e costumava usar seus dotes para intimidar os outros.
--- Calma Marcelo – disse suavemente Gabriela, falando pela primeira vez e olhando fixamente nos olhos do grandalhão --- Não precisa se zangar desta forma, o Miguel não falou por mal. Agora acalme-se e sente por favor.
--- Esta bem. Mas só porque você pediu Gabriela – disse Marcelo, sentando-se logo em seguida. Todos na mesa soltaram um suspiro de alívio.
Artur observou o modo como a garota acalmava Marcelo. Parecia que estava hipnotizando-o. Por um momento pensou ter visto os olhos da menina mudarem de cor, mas seu ângulo de visão não permitiu confirmar. Mas de qualquer forma o efeito foi interessante.
Seria mesmo verdade toda essa história confusa de super poder? Para Artur essas coisas eram fantasias que só se viam em histórias em quadrinhos e nos filmes. Aprendeu duramente que na vida real os verdadeiros heróis são aqueles que conseguem sobreviver por mais um dia. Artur se considerava um herói da vida.