O Banho

O Banho

A relação de Sandra com a água sempre foi muito forte. Quando menina, gostava de ficar horas e horas na banheira brincando, contrariando a avó que dizia – essa menina vai pegar um resfriado! Para sua mãe, eram momentos de descanso, assim não corria atrás dela.

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Quando chovia tirava a roupa e só de calcinhas corria para a bica do alpendre e lá se embriagava com a água límpida e pura caída do céu. Achava que assim, se livraria dos pequenos diabos que habitavam seu corpo, segundo dizia a preta velha, Bilú.

Se havia uma brecha na vigilância em que vivia, fugia, e com os meninos da redondeza ia para o rio tomar banho de roupa e tudo. Se chovia e saiam a passear, tinham que segurá-la com força para que não se molhasse. Qual a criança que não se fascinou por uma poça d’água? Foram momentos de intensa felicidade, marcados na sua infância.

Cresceu fascinada pela água. Amava o mar e dele fazia sua maior fonte de prazer. Gostava de ser acariciada, tocada pelas águas, mornas ou frias, calmas ou revoltas. A ele se entregava totalmente querendo se perder na sua imensidão. Só não morreu afogada por que não sabia nadar, falando mais forte a preservação da vida.

Era uma mulher molhada. Até quando chorava, as lágrimas rolavam quais cascatas pela sua face. No banho, passava muito tempo debaixo do chuveiro ou na banheira, dificilmente alguém poderia entendê-la, parecia submeter-se a um ritual de purificação.

Decidiu comprar um apartamento num parque com frondosas árvores, perto de um açude de águas prateadas. Aí realizou um grande sonho: Construiu um banheiro envidraçado, espelhos no teto e uma piscina sobre um aquário: excentricidade, diziam os amigos.

Quando voltava do trabalho, cansada das correrias agitadas do dia, se deleitava nua, mergulhada em espumas verdes, deixando-se acariciar pelas estrelas e recebendo beijos da lua. Era um prazer sensorial que poucos entenderiam. Sandra pensava ser uma sereia encantada, talvez fosse este o motivo de gostar tanto da água..Ina Melo.Jan/2001.