Tigre em dia de chuva
Depois que chegava do trabalho, descansava um pouco, preparando-se para a noitada que certamente viria; vestia seu linho impecavelmente passado, o sapato de 2 cores como era moda de pelintras, perfumava-se a mais não poder, e saia com as moedas tilintando nos bolsos. Caminhava cheio de sonhos, mas de coração sempre vazio, pensando ser aquela a noite da revelação, em que do meio do lodo sairia a flor, que perfumaria o resto de sua vida; enganava-se e enganava às pessoas que dele se aproximavam, buscando ver em sua face a imagem de um afeto que nunca se manifestava. Tinha em seus braços as mais confortáveis mulheres da noite, com quem conversava sempre de maneira fantasiosa, pois, àquelas pessoas, tudo poderia ser concedido, exceto a sinceridade. Assim, ficava conhecido de muitas delas, mas nenhuma poderia decifrar seu temperamento e seus desígnios; nunca o vi deixar de lado o rigor da vestimenta, a seda das gravatas, o polimento das unhas o ar compenetrado, de quem não tem o que dizer. Às vezes, saia do sério e se deixava trair, como matar a pauladas um tigre que se abrigara em sua casa em dia de temporal, interrompendo a leitura de Charles Fouqué; esquecia-me de dizer, que ele apreciava esse tipo de literatura inquietante!