A Flâmula
Ponce de Leon tinha o projeto de ser escritor; mania de escritor, diga-se de passagem, com muita justiça, pois, escrevia coisas bem originais. Isto não significa que escrevesse bem! Aos 16 anos escrevia romances com os mais variados enredos, sempre com desfechos dramáticos; pedia-me que fizesse a crítica, pois, julgava que pelo hábito da leitura, eu teria talento de crítico; lia seus originais com boa vontade, e reconhecia nele qualidades básicas para um escritor. A pouca idade não era o caso, pois, Françoise Sagan aos 18 anos, se não me engano, estourou no mundo inteiro com Bonjour Tristesse. Ponce tinha ligação com uma Editora Maranguape, que lhe editara um livro. O que me aborrecia em seus textos, era a necessidade de mergulhar o final sempre em tragédia; não sei se influência das tragédias gregas, ou de Shakespeare. Pediu-me que escrevesse uma crônica para a Flâmula, que era um jornal escolar, muito bem impresso; queria que eu escrevesse uma coluna, com alguma importância, como uma mensagem aos jovens. Escrevi uma crônica com o título - Da Auto-sugestão; um texto que pouca gente entendeu, nem os parentes, pois, foi motivo de crítica enérgica de meu pai, que entendeu o assunto como crítica ao comportamento dele; uma crônica escrita em jornal escolar, para ser lida... pelo pai. A quem se destinaria? Óbvio, que aos leitores da Flâmula, nem mais nem menos! De fato, muitos gostaram, mas poucos entenderam; quando a reli, anos mais tarde, considerei o texto pretensioso e pouco fundamentado; provavelmente influenciado pelo livro de Gastão Pereira da Silva, que me ensinou a compreender Freud, tendo em mim um mau aluno. O jornal trazia ainda algumas poesias de Tancredo Vasconcellos, poeta reconhecido por todos, que transformara Carmelita em sua musa inspiradora; só não era levado a sério pelo irmão José, um humorista de mão cheia, com capacidade para imitar qualquer tipo de voz; sucesso no rádio, teatro e depois, na televisão e cinema. Essa questão de interpretação de textos é extremamente curiosa. Lembro-me, que fui participar de um concurso importante de poesia, em que era necessário inscrever-se três trabalhos. Eu tinha pronto dois, que achava uma preciosidade; sendo assim, resolvi escrever um terceiro meramente burocrático, como se fosse um contra-peso, apenas para cumprir as normas do concurso. Para surpresa, foi o filho enjeitado que teve menção honrosa e foi publicado; quanto aos outros dois... tempos depois, um amigo me trouxe informações, de que a filha que fazia o mestrado de literatura na UERJ, lhe havia explicado todo o simbolismo do poema, que ele repetiu para mim. Logo, fiquei sabendo o significado do que eu próprio havia escrito!Quanto ao Ponce de Leon, nunca mais o vi; é possível que um dia abrindo o Recanto das Letras nos reencontremos.