Vingança e Honra
Vingança e Honra
por Pedro Moreno da bibliotecadosvampiros.com
O cheiro que eles emitiam o deixava nauseado. Era uma mistura de corrupção e morte, porém para André cheirava à traição e quanto mais perto chegava o momento do ataque o odor era doce como a vingança.
Há três meses atrás seu irmão, Gustavo se unira a um maldito morto vivo em busca de poderes cada vez maiores. Por obra do destino um vampiro de nome Otávio não achou que ele ainda fosse útil e acabou o matando por puro sadismo.
Entre os lobisomens não há pacifismo.
Quando descobriram seus poderes de metamorfos, os irmãos sabiam que suas vidas seriam uma constante luta contra vampiros. Gustavo, em busca de ser um líder de matilha algum dia, caiu na besteira de acreditar em um dos sanguessugas que lhe prometera poderes nunca antes imaginados para um lobisomem.
O irmão traiu a confiança de todos, mas pagou com sua vida. André planejava acabar com o desgraçado que fizera isso com ele.
Com o nome do vampiro em mãos ele começou a subornar alguns vampiros, que não são exemplos de fraternidade, em busca do vampiro assassino. Aos poucos traçara sua rota e os lugares que frequentava. Hoje, pela manhã, André fizera suas orações e saiu para a caçada final.
Em um clube noturno da cidade há uma porta secreta que conduz a uma série de salas onde acontecem orgias de sangue com adoradores de vampiros. Fazendo-se passar por uma dessas pessoas medíocres André entrara sem problemas e agora aguardava no corredor a chegada de sua vítima.
Vestindo um fraque que saíra de moda há uns cinquenta anos atrás e uma ridícula cartola, Otávio entra no recinto sorrindo para as pessoas, como uma dona de casa passando pelas gôndolas do supermercado a procura de alimento para a família. Neste momento o lobisomem sente a sua vingança cada vez mais perto. Logo o objeto de ódio nota André no fundo do corredor e caminha até sua direção.
Com o aproximar de sua vítima o metamorfo começa a pensar em inúmeras maneiras de acabar com o verme, porém sabe a importância de se controlar e deixar que o leve para um lugar mais reservado no qual não seja possível uma fuga. Uma gota de suor gelado desce por suas costas quando o morto-vivo lhe lança um olhar lascivo. Neste momento por muito pouco o lobisomem não deixa sua fúria lhe dominar e o ataca ali mesmo.
Sem cruzar os olhos com o metamorfo, ele o puxa pelo braço em direção a uma sala. O cômodo tem apenas um sofá e uma janela. As paredes são pintadas de preto e a cortina é vermelha e aveludada assim como o sofá. Quando entra, André sente um desconforto terrível. Ao olhar para trás nada encontra além da porta fechada, no susto ele volta seus olhos para dentro da sala e o vampiro já está sentado o observando.
Guilherme se levanta e caminha calmamente em direção ao metamorfo sem ter idéia da armadilha na qual caia. Ele passa as mãos pelo braço de André que sente uma pontada. Quando percebe há um filete de sangue descendo pelo seu braço .O vampiro leva o dedo com o sangue do lobisomem até a boca.
Ao experimentar o néctar carmesim o morto vivo muda sua expressão de prazer por terror e então olha para André que sorri com seus caninos a mostra. Em poucos segundos o lobisomem está transformado por completo em uma máquina assassina. Seus pelos são grossos e castanhos e há manchas de cor avermelhada nas extremidades de suas patas. Sua altura inspira medo e seus músculos saltam nos menores movimentos indicando um guerreiro experiente. Dos dedos se projetam garras negras e afiadas que logo buscam pelo sangue do vampiro com uma patada que poderia matar um ser humano.
Porém Otávio é velho e poderoso. Resiste ao primeiro ataque que o jogou contra a parede, de seu ventre o sangue escorre deixando um cheiro nauseante dentro da pequena sala. O velho vampiro salta sobre o lobisomem e com suas pernas prendendo no tronco do metamorfo desfere uma dezena de golpes sobre o rosto dele em uma velocidade humanamente impossível.
A resistência do lobo é testada pelos socos fortes do morto. Com seu braço livre ele crava suas garras nas costas do traidor e o arranca de cima dele jogando-o contra a parede mais uma vez, porém os tijolos cedem e o vampiro é arremessado para fora do local. Otávio ainda rola por alguns segundo e consegue ficar de pé para correr, e o metamorfo segue em seu encalço.
Caso o vampiro não tivesse sido ferido com certeza já teria fugido com sucesso. Os dois correram por ruas desertas e aos poucos o vampiro se curava ganhando bastante vantagem sobre o lobisomem que desistiu da caçada e parou.
Antes de voltar a parecer humano André deu um uivo de raiva que foi ouvido há uns três quarteirões dali. A caça continuaria mas não hoje.
No outro dia pela manhã a pista já esfriara e ele sabia que Otávio não estaria nos mesmos lugares de costume. Sem saber por onde começar a procura resolveu ir à banca de jornal, antes de sair da sua casa reparou em uma carta que havia sido passada por baixo da porta ao abrir verificou a seguinte mensagem:
“Sei quem procuras. Quero a destruição dele também.
Encontra-me no Armazém da Rua Velha às 21:00”.
Mesmo sabendo que poderia ser algum tipo de armadilha, André resolveu que deveria ir ao local indicado. Depois do almoço começou a meditar para tentar purificar sua alma e espantar todas as suas fraquezas mundanas. Quando perto do horário ele se dirigiu até o encontro com a morte, só não tinha certeza qual dos dois ela levaria.
O galpão estava abandonado. Ao chegar o metamorfo lembrou que seu avô já trabalhou neste lugar estocando grãos que eram levados até o porto. A lembrança lhe trouxe a tona o real motivo de ele estar lá hoje. A honra de sua família fora maculada e só poderia ser lavada com sangue.
Para não ser pego desprevenido ele deu a volta pelo antigo armazém e encontrou uma janela que dava para os fundos. Já transformado em sua forma guerreira de lobo e homem André saltou até alcançar o parapeito e lá observou a parte de dentro.
O lugar estava todo empoeirado e já não sobrava nada além das colunas sustentando um mezanino que cobria apenas as laterais do galpão. Com um salto ele aterrisou bem no meio da construção levantando uma grossa poeira.
Realmente era uma armadilha.
Três vampiros apareceram de trás de algumas caixas. Eram dois novatos e Otávio. Eles sorriram mostrando seus caninos em provocação. O lobisomem estendeu o seu braço na direção deles e com a mão os chamou revidando o insulto.
Um deles pulou de onde estava e como se pudesse voar atingiu o metamorfo no peito, os dois caíram porém o vampiro fora atingido nas costelas pelos pés do lobisomem jogando-o para trás em direção a uma coluna que arrebentou com o peso do vampiro fazendo o mezanino desabar sobre o mesmo soterrando-o.
Quando conseguiu o lobisomem se levantar foi atingido com um chute na perna de apoio dado pelo outro novato que carregava uma faca na mão. O metamorfo se desequilibrou e acabou se apoiando no chão com uma mão direita que recebeu um golpe de faca e acabou presa no chão de madeira do local.
Mesmo sentindo uma dor terrível André com a mão solta pegou o morto vivo pela cabeça e a quebrou no meio contra o chão espalhando sangue e miolos para todos os lados.
Otávio até então não se movera. Tirou sua camisa e a jogou no chão. André arrancou a mão presa e dela tirou a faca e enquanto olhava para o vampiro seu ferimento já se cicatrizava. Os dois permaneceram imóveis. Poucos segundos passaram mas o clima era tão tenso que eles podiam jurar que estavam lá por horas.
Ambos pularam e se engalfinharam em uma luta épica. O galpão era destruído pelos corpos arremessados e por causa da força equiparada dos gladiadores não era possível imaginar quem fosse o melhor. Os dois eram muito fortes e transformaram a briga em um teste de resistência. Apenas o mais vigoroso poderia sobreviver
Os músculos do metamorfo mostravam sinal de cansaço e por um deslize ele acabou tropeçando em uma tábua solta. O vampiro pulou sobre ele e mordeu firmemente no pescoço enquanto sugava seu sangue e o resto de energia que lhe sobrava.
Neste momento André lembrou de seu irmão e tudo começou a ficar escuro. Aos poucos ele já não sabia o que estava acontecendo e sua vida deixava seu corpo. Juntando as últimas forças que ele tinha agarrou o braço do vampiro que lhe segurava e com uma mordida o arrancou do dono. O morto vivo sentiu a dor e parou com a mordida olhando incrédulo para o lobisomem que trazia em seus olhos um sentimento de fúria que ele nunca havia visto.
Aproveitando-se do momento, o metamorfo chutou o vampiro contra a parede e ficou de pé. Quando o vampiro se recuperou da queda André já estava na sua frente empunhando o braço decepado como uma arma e começou a bater em Otávio com seu próprio membro amputado.
Quando terminou só havia uma grande massa de carne e sangue estirada no chão. André uivou de regozijo com a vitória. Agora a honra de seu irmão estava salva.
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