A LENDA DE KÓRA & ALSVID - parte 2: A princesa

A moça atravessou os corredores frios do castelo a passos lentos. Seus cabelos longos e negros esvoaçavam levemente com a brisa que entrava pelas altas janelas. Seus olhos verdes brilhavam com a luz da lua cheia, e os faziam parecer duas esmeraldas reluzentes. Ela se chamava Kóra.

Nessa época existiam três nações que se destacavam; Asgarnofe, Ofidis e Elgartem. Esta última a menor delas, era considerada a mais amigável, e constantemente firmava laços com as outras duas, e com mais dezenas de reinos espalhados pelo mundo. O rei de Elgartem era Ottavius II, e por ocasião do destino havia perdido sua esposa, a rainha Agnes, durante o parto de sua única filha: a princesa Kóra. Ottavius sentia que estava ficando velho demais, e precisava garantir a continuidade do reinado de sua família, casando o quanto antes a sua filha.

Então uma propósta tentadora veio do reino de Asgarnofe: um conde abastado se propunha a casar-se com Kóra, e o rapaz parecia ter todos os requisitos que Ottávius procurava em um marido para a sua filha. O rei tratou de logo apresentar os dois, e organizou uma festa grandiosa em seu castelo.

Naquele instante, a princesa Kóra se dirigia ao salão onde acontecia a festa.

— Kóra! — chamou a sacerdotiza mais velha do reino, ao encontrar a princesa no corredor de acesso ao salão principal. — O asgarnofeano já chegou! Apresse-se!

— Já estou pronta — disse sem muito entusiasmo.

— Então vamos — ordenou a sacerdotiza.

Com grande estardalhaço, Kóra foi recebida no amplo salão principal, onde três grandes mesas estavam lotadas de convidados. Na ponta da maior mesa estava o rei, e ao seu lado direito encontrava-se sentado um homem elegante, com a barba bem feita e que tinha um ar de imponência visível a quilômetros. Aquele era o conde Victor, de Asgarnofe.

A princesa se aproximou, fez reverência ao seu pai e quando ia se curvar diante de Victor o homem a impediu.

— Não princesa Kóra — a voz dele era grave e combinava com suas feições fortes. — A apenas seu pai deve se curvar, sou apenas Victor, conde de Asgarnofe. Você sendo a princesa de Elgartem, sou eu quem deve se curvar.

Surpreendendo a todos, inclusive Kóra e o próprio rei, Victor se reverênciou a Kóra e beijou levemente uma de suas mãos. — É um grandioso prazer conhecer tão bela e nobre mulher — completou.

— Agradeço! — disse Kóra sorrindo e se sentando ao lado de Victor.

O rei levantou-se e pediu atenção. Explicou o motivo de todos estarem ali e pediu que o banquete entrasse:

— Bem, gostaria de complementar que esse banquete será uma cortesia de nossos amigos de Ofidis! Entrem amigos!

As portas de carvalho da entrada do castelo se abriram e dezenas de soldados da guarda real de Ofidis adentraram o salão, carregando várias bandeijas cheias com os mais diversos tipos de comida. As bandeijas foram postas à mesa e os soldados se afastaram, se curvando ao rei.

— Bem, começemos senhores! — disse o rei.

O banquete estava delicioso e Victor mostrou-se um homem interessante e divertido, descontraindo Kóra com a descrição apaixonada de suas aventuras pelo mundo. Durante a refeição, ensinou a princesa a como abrir a concha de moluscos árticos, e a encorajou a experimentar carne de topeira albina. Ao fim do jantar Kóra percebeu que Victor era um homem muito gentil e educado, forte e corajoso, inteligente e sagaz. Foi fácil admirá-lo

A princesa e o conde deixaram a mesa e foram caminhar pelos corredores largos do castelo. Subiram por vários lances de escadas, e chegaram finalmente à torre do sol – que tinha esse nome porque era o ponto mais alto do castelo, onde primeiro se via o sol nascer e se pôr. Ali eles se recostaram no parapeito e apreciaram a bela vista do vilarejo, acesso por lamparinas aos pés das montanhas ao leste. A noite estava fresca e o céu extremamente limpo.

— Esse é o meu lugar predileto — disse Kóra.

— Hum, é uma honra conhecer o seu lugar de reflexão, princesa.

— Reflexão?

O homem riu sutilmente.

— Desde que chegamos aqui, seu olhar tem estado distante e profundo. Parecia estar refletindo sobre memórias antigas, mas cuja dor continua a incomodar no presente.

A princesa abaixou o olhar, com certa tristeza.

— É verdade — disse Kóra —, aqui eu venho as vezes para refletir... Antes de eu nascer minha mãe vinha aqui para pensar.

— Sinto muito em fazê-la relembrar tal assunto. A morte da sua mãe durante o seu parto, realmente chocou a maior parte do nosso mundo. Nossos corações ainda doem...

Num gesto involuntário, Kóra abraçou Victor que a afagou. Neste momento ouviram um barulho que vinha de trás de um vaso, e viram a figura de um homem perder o equilíbrio e se estatelar no chão. Era um jovem que vestia uma armadura prateada com a figura de um pássaro vermelho estampada, e em sua mão encontrava-se um elmo alongado; era um guarda de Ofidis que provávelmente os espionava atrás do vaso. Victor explodiu.

— O quê pensa que fazia, guarda? — inquiriu severo. — Estava nos espionando em momento tão íntimo?

O soldado se levantou nervoso, e tentou se explicar aos tropeços:

— Desculpem-me, eu já estava aqui quando chegaram, então tive vergonha e me escondi.

— Serviçal insolente! Como ousa dizer tão descarada mentira?

Kóra era uma mulher muito simpática, e era admirada por constantemente ser vista pelo reino conversando com os moradores de Elgartem; desde os mais nobres, até os mais humildes. Ela então se espantou com a reação de Victor, e achou exagerada a repreensão do conde.

— Acalme-se Victor! — disse a princesa. — Aqui em Elgartem não pisamos nos serviçais.

O conde pensou em retrucar mas se conteve.

— Vá, guarda — disse Victor em um tom de voz mais ameno.

O soldado se retirou e o conde se desculpou com Kóra. Em seguida, os dois desceram ao salão principal.

Depois daquela noite eles voltaram a se ver outras vezes, até que Kóra foi pedida em casamento, e diante das circunstâncias, não pode negar o pedido do conde.

Victor então voltou a Asgarnofe, e prometeu voltar em 2 meses para o casamento. Kóra mostrou-se ansiosa no início, mas logo esse sentimento passou... Foi numa manhã ensolarada que ocorreu algo que iria mudar e muito, a vida da princesa de Elgartem.

Jean Carlos Bris
Enviado por Jean Carlos Bris em 04/07/2009
Reeditado em 04/07/2009
Código do texto: T1682519
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