A casa viva

-Entre!

-Minha nossa, que lugar estranho aqui!

-Não entendi, estranho como?

-Essa sala, por exemplo, é coisa de louco ver essas cadeiras, mesas, abajures e estantes se moverem.

-Porque estranho? Eu dou liberdade a todos aqui. Todos são iguais para mim.

-Eu nunca vi coisas tão estranhas. Aonde já se viu objetos se moverem?

-Você os está vendo agora, estão na sua frente, e porque eles não podem ser livres? Acho que no seu mundo as coisas devem ser muito chatas.

-Não acho, lá quando eu quero assistir à televisão o sofá não fica andando como um doido por aí.

-Viu como são chatas as coisas nesse seu mundo. Televisão sim é uma coisa chata, um aparelhinho quadrado que fica mostrando imagens. Não preciso disso no meu mundo, aqui tudo é verdadeiro.

-Não acho, eu passo o dia inteiro em frente à televisão e me divirto muito.

-Tudo bem então, já que você está dizendo. Minha opinião continua a mesma. Mas vamos mudar de assunto por hora. Quero saber o seu nome primeiro, afinal de contas não nos apresentamos ainda.

-Sou Nielad e moro a duas quadras daqui.

-Prazer Nielad. Chamo-me Gilfred.

-Porque eu nunca vi sua casa aqui? E olha que moro nesses arredores a um tempinho.

-A resposta é bem simples amigo. Minha casa sempre esteve aqui nesse lugar, o problema é que você não queria vê-la.

-Como assim? Todas as casas podem ser vistas, isso não é verdade.

-Essa é diferente, ela se mostra para quem quer vê-la, não é como as casas comuns que aparecem para todo mundo, esta é muito refinada, e fale baixo, pois ela pode ficar ofendida com o comentário. Sabe como é, ela é um pouco orgulhosa.

-AH, não me diga que ela também é viva e fica andando por aí.

-Nossa, estamos começando a nos entender. É isso mesmo, ela tem vida, mas não anda, como lhe disse ela só se esconde mesmo, e só se mostra para quem quer vir aqui.

-Mas eu não queria vir para cá, eu simplesmente brincava com minha bola e ela caiu no seu quintal.

-Nossa! Você entrou numa enrascada das grandes.

-Porque?

-Lá é um reino imenso, e com muitas criaturas más. São de todos os tamanhos e de todos os jeitos.

-Não acredito. E estou indo para lá agora mesmo pegar minha bola.

-Tudo bem! É só seguir em frente e abrir a porta.

-Fácil mesmo...

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-Falei para você ter cuidado, lá é um lugar perigoso.

-Socorro! Há um dragão correndo atrás de mim.

-Agora é tarde meu amiguinho, te avisei e nada posso fazer, ele tem vontade própria, não interfiro na vontade de ninguém.

-Por favor, me ajude, ele está cuspindo fogo e pegou na minha blusa, vou morrer queimado.

-Ah, não vai não amigo, pois vaso ruim não quebra fácil e além do mais a porta de saída está perto de você, é só correr e sair, o dragão não sai de minha casa, pode ficar tranqüilo.

-Obrigado... Estou conseguindo...Consegui.

-Nossa! Que menino estranho. Imagina, falar que minha casa não é real. Ele que é louco!

Daniel Tomaz Wachowicz
Enviado por Daniel Tomaz Wachowicz em 10/05/2009
Reeditado em 18/04/2015
Código do texto: T1586060
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