Crendice hereditária

- Eu avisei que seria perigoso! – Disse Sofia pela terceira vez naquela hora. – Eu avisei...

- Já chega! Se vocês dois não calarem a boca, aí sim eles nos descobrem. – sibilou Mariana quando Mateus estava prestes a responder mais uma vez.

Sofia, Mateus e Mariana, filhos do mesmo pai, Artur, mas cada um de mães diferentes, herdaram do pai a mesma inclinação para superstições e crendices, sendo a maioria delas inventadas pelo próprio Artur.

Mariana, a irmã do meio, lutava por perder a fé em histórias populares, mas quando Sofia, a mais jovem, contou aos outros dois sobre a existência de sapos mágicos na lagoa próxima à casa do pai, nenhum dos três pensou duas vezes antes iniciar uma caçada aos animais.

Foram dias pesquisando o melhor caminho para chegar à lagoa sem atrair a atenção de ninguém, discutindo sobre o melhor método de transportar o sapo para que ele permanecesse vivo, adivinhando o que os sapos seriam capazes de fazer.

No fim de semana seguinte, partiram à caçada.

O caminho até a lagoa foi extremamente divertido para os três. Há tempos os irmãos criados em universos tão diferentes não encontravam tantos assuntos em comum para se divertirem de tal forma.

Mas ao se aproximarem do local onde os sapos deveriam estar, ouviram vozes diversas, que falavam sobre a falta de escrúpulos das pessoas que caçavam sapos apenas para se divertirem e estavam auxiliando com o processo de extinção dos animaizinhos.

- São os sapos! – começou Sofia com as suas observações amedrontadas. – São eles que estão planejando o que fazer com gente como nós, que está em busca dos poderes deles.

O que nenhum dos três sabia, era que realmente mais pessoas tinham ouvido sobre os supostos poderes dos sapos e a Polícia Ambiental rondava o local para impedir o sofrimento dos bichos.

- Venham já pra cá as duas, - disse Mateus já com quase todo o corpo atrás de um arbusto mal formado. – aqui eles não podem nos ver.

Mateus, Mariana e Sofia estavam convictos de que eram os sapos que falavam, e ficaram escondidos no arbusto.

Quando as vozes cessaram, resolveram pegar um sapo rapidamente e voltar para casa. Mas foram exatamente para a armadilha montada pela Polícia. Sem erro, os três foram detidos e encaminhados para a delegacia. Lá, o pai foi chamado, já que Sofia era ainda menor de idade.

- Onde é que eles estavam? – Começou Artur – Então eles também sabem? – E correndo ao carro, voltou com uma caixinha de sapatos.

- Algum problema, policial? – Perguntou o sapo verde e rugoso, com os olhos sonolentos de quem acaba de tirar uma longa soneca...

Kamila Babiuki
Enviado por Kamila Babiuki em 04/04/2009
Código do texto: T1523067
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