UMA VIDA LONGA

LONGEVIDADE

Era madrugada de inverno e o vento frio assobiava na copa das árvores.

O tempo estava bom, prenunciando um dia bonito, ensolarado, ou de uma manhã fresca, com o vento trazido pelo ar das montanhas mineiras da serra do Curral Del Rei, para a plenitude da capital de Minas.

Os galos cantavam perto e longe. Pelo cantar distinguiam-se galináceos de várias raças nacionais e mestiças, inclusive o pequeno garnisé.

Os cães latiam alto e ferozes como se afugentassem algum estranho ou estranhassem algum movimento nos arredores daquele pedaço de terra.

Em outra terra distante, já era quase ao amanhecer quando os homens se levantaram, e, começaram os preparativos para mais uma viagem. Os cavalos relincharam, os galos pararam de cantar em seus terreiros e os cães sossegaram em seus quintais.

A aurora veio bonita e luzidia, o sol brilhava intensamente no céu, a aragem matinal soprava um aroma fresco e cheiroso. E, os homens terminaram os preparativos para mais uma jornada pela grande floresta.

O sol empinava alto quando o comboio partiu rumo ao seu destino. O vento continuava a soprar frio e forte. Os cães deitados no chão cochilavam languidamente. Os galos cacarejavam, arrastando as asas para as galinhas.

E a caravana seguia com os passos firmes rumo ao seu destino, vencendo a barreira da distância e da intempérie da desértica floresta. O sol continuava dardejando seus raios luminosos. E os viajantes seguiam seu caminho em silêncio.

As horas passavam. Passavam as horas e começou a entardecer. O sol começou a se por no oriente. E a caravana continuava em sua marcha determinada, vencendo a distância e o tempo. O sol se pôs de todo e começou a esfriar. Os viajantes avistaram um pequeno oásis e para lá se dirigiram detendo-se ali o comboio. O vento soprava frio. Um dos homens da caravana, talvez o líder, exclamou:

- Rapazes, vamos acampar aqui. Providenciem lenha para uma fogueira.

Então, um dos homens afastou-se do grupo seguindo do local para o meio da rala floresta e, começou a catar gravetos de lenhas quando sua atenção foi despertada para um fogaréu ao longe de onde se encontrava. Devagarzinho o homem avançou na direção do fogo, foi chegando com cuidado e atenção redobrada.

O forasteiro aproximava mais e mais do fogo, até que teve sua atenção despertada para um vulto perto do fogaréu. Era um ancião que chorava em prantos. O visitante achegou-se e foi saudado pelo velho:

- Seja bem-vindo, forasteiro.

O homem ficou encabulado quando viu que o ancião tinha barbas longas, cabelos compridos e uma fisionomia alquebrada pelo tempo. O homem perguntou ao velho:

- Meu bom velho, o que faz aqui e por que chora?

O ancião respondeu, com voz embargada:

- Estou fugido de casa e choro porque meu pai me bateu.

O forasteiro ficou surpreso com a resposta do ancião. E perguntou novamente:

- Mas nessa idade você ainda tem pai vivo?

Ao que o velho respondeu, choramingando:

- Tenho pai e tenho avós vivos, bem fortes e sadios.

- Mas porque seu pai lhe bateu?

- Ele bateu-me porque fiz uma má criação com minha bisavó paterna.

- Você também tem bisavó?

- Tenho as duas. E moram com a gente no meio da floresta.

- Meu bom velho, conta para mim como se faz para viver tantos anos assim, fortes e com saúde.

- É só você acordar cedo, fazer uma boa caminhada, tomar uma colher de mel todos os dias e amar, mas amar muito os seus semelhantes e fazer amor toda semana com sua bem amada, sem esquecer da vida espiritual.

Enquanto isso, o fogaréu foi diminuindo, o ancião parou de chorar, e o forasteiro depois de matar sua curiosidade despediu-se do bom velho, voltando para o acampamento com os braços cheios de gravetos de lenha, guardando para si a curiosa história do ancião centenário.

F I M