Obstáculos.

Aquele jovem a quem todos nem conheciam finalmente conseguiu o mais belo par de asas que já vi. Penas brancas como nuvens a pairar, tão ofuscantes como um ráio de luz que atravessa os céus iluminando até onde o sol pode ver. Elas levam-no por caminhos virgens, por belos bosques onde a vida ainda floresce; sem perguntas, sem porem, sem nada. Essa simples criatura conquistou o poder de tocar o céu.

Mas pergunto-me, como ele alcançou tal honra divina? Vejo vários buscando realizar esse feito, mas perecem no caminho árduo. Todos são derrubados antes que alcancem o céu porque são enganados ou tem suas asas dilaceradas. Qual dos dois caminhos ele seguiu para alçar vôo? Foi pelo caminho alado, onde lá foi beijado pela graça divina; ou seguiu o caminho sombrio, onde habitam as tormentas e o preço é sempre alto de mais. Rogo por ele para que tenha feito a escolha certa, pois se não, cairá, assim como caíram os outros tolos enganados.

Ouço as vozes daqueles que o invejam, tramando como tomar seu lugar. Em seu vôo sublime uma flecha banhada em chamas corta os céus passando próximo ao menino alado. Não o acerta. Logo vejo a segunda, a terceira; e o céu fica tomado por riscos pontiagudos cobertos de chamas. Ele não tem para onde fugir contra a voraz força daquela onda de chamas.

Suas penas inflamam-se. Vejo-o descendo como uma rocha, inerte, asas mal existem agora, consumidas pela chamas. Cai. Aqueles que lançaram as flechas retiram-se, com uma expressão vazia no rosto, calmamente como se nada acontecera, não sentem arrependimento, nem felicidade... Serviço feito.

Jogado no chão sozinho e sem suas asas, parece perdido, mas não está com uma expressão preocupada ou assustada, esta com um olhar vazio como olhasse o infinito do espaço. Sentiu por um momento o que outros não sentiram em uma vida inteira. Ele olha suas asas, não há asas; olha para o céu, o céu está muito longe. Caído no buraco feito pela sua queda ele ainda tenta tocar o céu, mas não pode mais. Uma singela lágrima escorre em sua face. Antes que ela despencasse como ele, ele a recolhe. Observa na ponta de seu dedo a personificação de sua derrota. Uma lágrima representa um momento, uma vida uma história. Ele se nega a aceita-la; lança-a para o alto, não adianta lamentar-se, espalma as mãos no chão e começa a erguer-se. Parece que faz uma força tremenda para aquele simples movimento. Mas ele é forte, uma pessoa forte, não importa quão alto seja a queda, ela sempre se levanta.

De pé, asas queimadas, ele não desistiu, quer alcançar novamente as estrelas, beijar o rosto das nuvens, abraçar o céus. Espero que consiga e mostre àqueles que tentaram derrubá-lo que ainda tem força para voar novamente.