Em uma manhã de sol os guardas das muralhas do palácio viram uma grande massa humana se aproximar dos portões. Caminhavam quietos. No silêncio da manhã, só se ouvia o soar ritmado dos passos da multidão.
Pararam diante das muralhas e Zoah, o chefe da guarda, gritou lá do alto:
‘Que fazem aqui?’.
‘Viemos rogar a nossa rainha que tenha um filho com nosso rei’ – respondeu uma mulher idosa, que se adiantara do grupo.
Zoah piscou; nunca ouvira tamanho absurdo. A rainha era uma mulher doente e, casada há muitos anos com o rei, não lhe dera filhos. Os médicos diziam-na estéril. Útero seco e morto.
‘Esperamos o príncipe herdeiro!’ – elevou-se a voz da velha – ‘Um reino não pode viver sem um herdeiro. O povo precisa ter um futuro!’.
Zoah pensou em desfazer a multidão, ainda que à força. Mas, para sua surpresa, o portão principal se abriu e por ele saiu a rainha, envolta em uma manta velha e surrada, os cabelos soltos, os pés descalços.
‘Minha senhora... ’ – exclamou Zoah.
‘Sigo com eles, guarda. O povo precisa de um futuro. Deixo o rei em paz!’.
E misturou-se à multidão, que, lentamente, foi se afastando da frente do palácio. O rei casou-se e teve muitos filhos. Da rainha, nunca mais se ouviu falar.