o último discurso (extraido do livro A viagem a ilha de Saves)

Ah!Poderosa alma que mesmo escrava cativa de nossa tola e vã egoidade,transforma em cordel de fina lã os grilhões de aço de nossa iniquidade.Que adiantam os inúteis apêlos da massa inculta no mundo da transcendência...

O primitivo invólucro de sapo bestial não suporta mais as enormes pressões do clamor pela liberdade.As ruturas se multiplicam prenunciando que o êxodo se aproxima."Precioso avatar,abandona o país do sofrimento.Ingressa em Tua glória"."Deixa,porém Tua última palavra aos Teus devotos!...Assim,rogava,em pensamento,o brejo inteiro.

A florzinha do beiral do caminho encurvava,respeitosamente,o talo esverdeado e com voz sufocada,dizia:"Estimado IANODA,Tu que fizeste da pedra um Deus,deixa-nos a última mensagem".Profundo silêncio envolveu os habitantes,levando a sensação de que seus corações ressecavam em seus peitos e caiam qual folha murcha.Ante à impertubável imobilidade do Sábio,uma leve onda começou a abalar a multidão de fieis,levando penosa comoção."Querido mestre,fala-nos pela derradeira vez,do segrêdo que oculta a fonte inesgotável do conhecimento da realização existencial"Suplicou Mazda."Deixa-nos a trilha ,mesmo sinuosa a retardar a esperada chegada.Não retira os obstáculos

pedregosos ,espinhentos a sangrar nossos pés.Estes serão valiosos sinais vermelhos,gravados dolorosamente,à orientar os companheiros viajores."falou Kunti,o colibri azul.

E,...IANODA falou:Do silêncio,da amizade e do amor...

"Caríssimos ,outrora o meu silêncio era feito de aflições,onde meu pobre eu soluçava,emitia sonoros gemidos qual pássaro indefeso.Ah!Pobrezinha de minh'alma que só ouvia o cantar alegre quando do amanhecer e repetia inconsciente o belo trinar!.Cuidava para que o silêncio não me fizesse esquecer de viver...Ah!Lêdo engano!Nossa mente,campo perene de batalhas,traz à tona inúmeros "eus" mutilados e moribundos.Surgirá o dia em que sonora e vigorosa ordem será ouvida ,claramente!Deixai falar esta que traz o frescor das gotículas da chuva,esta que acaricia a flor do campo,arrancando,suavemente as semente,perpetuando a espécie,não a interrompais!"Após percorrerem o longo e turvo corredor do silêncio,entrarás na ante sala de vossas realizações,a Amizade"

Não espereis colher,tão sòmente,os frutos visçosos e maduros das dádivas do nobre sentimento.Declaro-vos que,pelo contrário,ao viverdes a amizade não podereis ter,jamais a paz,nem dos insensatos

e nem dos realizados.Aqueles,ainda não acordaram do sono torporoso

da cega dominação da indiferença.Cultuam monstrengos em seus altares e colocam flores mortas para reverencia-los.Porém,os iniciados,já,há muito,sofreram a insônia e agruras purificadoras da mortificação de seus pobres diábolos.Tais seres,já não mais habitam entre as quatro paredes da iniquidade,egoismo,rancor e ambição.Os que passaram pela amizade virtuosa e por ela sofreram ,hoje são arcanjos do cosmo impregnados de amor..."Caríssimos,deveis viver a amizade ,não apenas na festa da colheita"..."Cuidai que vos retireis para que vosso amigo possa agradecer ao maior dos Camponeses."