A confissão de Siva

Cansada de ter a compania perene da solidão e da morte,a aranha Siva abandonou a teia que ostentava os estranhos troféus da traição...
Entediara-se em iludir os animaizinhos distraidos pelos fios prateados a emitir reflexos multicores.A princípio,cantava orgulhosa ao ver que o indefeso,quanto mais se debatia,mais se tornava cativo do emaranhado viscoso.Descia,então,soturna,sombria,escalando as malhas e tecia a mortalha,que,asfixiaria o último grito de dôr...
estava,pois,concluida mais uma ação.Siva era o ente exterminador das trevas.O temor de sua peçonha se expandia entre os habitantes.Como se poderia conceber que tal criaturinha fosse criada pelo Anjo da beleza e do amor?Ao mesmo tempo,que pecado cruel teria a aranha Siva cometido em seu nascedouro para ser condenada a viver sob os designios da morte?
Por que não alimentar-se do sumo doce das corolas floríferas?
Por que não construir,tão sòmente,pousada para os cansados trabalhadores do brejo,afim de refazer-lhes as energias?
Qual a razão de tão penosa maldição?
A aranha deixara-se encantar com a alegria,ilusão maiásica de seus irmãozinhos,vítimas potenciais.O desenho,cuidadosamente,pintado nas asas da mariposa,as bolinhas brancas do casco liso e brilhante das joaninhas,o misterioso vaga-lume,farol amigo nas noites escuras não poderiam ter fim tão trágico em sua teia.
Aproximou-se,então,lamurienta de IANODA e confessou-Lhe as afliçoes.Querido sábio e valoroso amigo,afasta-me da missão aniquiladora,transforma-me em mera vítima a ser colhida pela bôca devoradora e insatisfeita que nada poupa,livra-me do fardo da dôr da consciência,deixa-me ser,apenasobservador da beleza infinda que se descortina ante meus olhinhos cansados da escuridão.
Dá-me a benaventurança de viver poucas horas de contemplação da fantasia da Eterna renovação...
IANODA,que silenciosamente,a tudo escutara,sorriu de forma amena.Tal gesto calou em Siva como suspiro consolador inicial,devolvendo a paz necessária para que ouvisse,serenamente os conselhos do velho bufo.


ps.este conto é extraido do livro escrito pelo autor "A viagem a Ilha de Saves" onde o protagonista um sapo bufo chamado IANODA (inversão do nome ADONAI) evolui ate transformar-se em ASCÊNCIO o pássaro azul