Importado eu estou! Só não estou desesperado...
Simone Mottola
Meu filho aqui em casa, tem pequenas responsabilidades. Como deve ser em todas as famílias, acho eu.
São coisas pequenas como organizar sua mochila, recolher o prato depois de cada refeição e colocar na pia, secar o banheiro depois de um banho ( é que o meu simplesmente molha todo o banheiro, não importa se há boxe ou cortina).
Nos preocupamos em fazer com eu ele valorize o dinheiro ( na verdade o trabalho que dá para ter dinheiro rs...).
Quando ele era menor , não achamos ainda que fosse propício oferecer uma mesada. Apesar de ele já saber calcular, achávamos que ele não tinha condições de administrar um determinado valor a fim de que durasse o mês toda ou até mesmo uma semana. Portanto ele pedia às coisas que queria.
Certa vez no mercado, meu marido cansado ( melhor dizendo apavorado) em ver que a cada corredor ele descobria algo de que precisava muito ( parecido com a mãe) e o carrinho estava começando a ficar abarrotado de balinhas nos mais diversos formatos e cores, bebidinhas, chocolates, salgadinhos e muitas outras porcarias, deu um basta! Franzindo a carranca determinou: - Você tem dez reais para gastar, portanto escolha bem o que vai querer, pois seu limite é dez reais, basta você ir somando.
O que já estava no carrinho foi pacientemente devolvido as prateleiras por mim (sinal de apoio).
E recomeçamos as compras.
Na verdade ele ficou orgulhoso em ter que fazer escolhas e cálculos. Muitas vezes ele pegava determinada mercadoria e colocava no carrinho, mas quando passava por outro corredor “mais interessante” devolvia o que havia pegado antes e escolhia outra coisa.
Não nos preocupamos mais, e nos dedicamos as nossas própias escolhas, separamos um pequeno espaço no carrinho para que ele colocasse seus produtos.
Em determinado momento achei que ele estava fazendo milagre com dez reais, já que estava conseguindo comprar muitas coisas, e resolvi fazer uma auditoria em seus pertences ( coisa que ele não gostou nada, nada, reagindo com uma cara feia).
Na hora percebi que já havia bem mais do que vinte reais. Chamei-o para que me explicasse que cálculo estava fazendo, já que obviamente estava tudo errado.
Ele me explicou calmamente. E para cada produto em questão, que ele segurava perto do meu nariz ele dizia: - Um real.
Outro produto: somava mais um real. E assim por diante, até chegar a soma de oito reais ( oito produtos). Ao largar o último dos oito produtos no carrinho ele concluiu: - Viu ainda tenho dois reais!
E agora como explicar que não era tão simples assim? Que no mínimo, metades de suas preciosas compras teriam que ficar se acaso usasse o critério imposto pelo pai? Pensando hoje, será que sua mente funcionava assim de maneira tão simples, ou ele foi é muito esperto em fazer aquele tipo de cálculo ( por unidade e não por valor)?
Não sei.
Mas depois de muito escolher, devolver, pegar de novo, calcular etc. Ele acabou levando doze reais em produtos.
Hoje está usando sua mesada para fazer pequenas compras, como figurinhas, sorvete, Mc Donald ( outro dia me comprou uma rosa)
Ele calcula bem os seus gastos, escolhe bem o que vai levar. E também guarda bem o dinheiro para que ninguém gaste além dele mesmo. O problema é que como a mãe, às vezes esconde tão bem que não lembra onde está.
Ontem segundo sua contabilidade faltava dez reais. Ele tinha certeza que estava em seu esconderijo secreto, mas não estava.
Lá havia apenas quatro reais, que ele havia conseguido na tarde ,quando nos cobrou dois reais de cada, para assistir um show protagonizado por ele mesmo na garagem, com direito a bateria de latas e baquetas de colher de pau.
Quando o interroguei a respeito do dinheiro, insistindo diversas vezes que ele deveria se preocupar mais, afinal eram seus últimos dez reais (uma das coisas que mais detesto é perder dinheiro) e que quando déssemos um passeio a noitinha, ele certamente iria querer comprar algo, mas não teria dinheiro.
Será possível que você não se importa em perder o seu dinheiro? – perguntei já braba, com seu sossego.
Ele pensou e respondeu:
- Mãe importado eu estou. Só não estou assim desesperado!
Então é isso, mais uma lição de como me tornei materialista... É a vida... O pequeno ensinando o “grande”.