O vendedor de laranjas
O ano é 1978. Seu Eri Rodrigues trafega próximo ao trevo de São Luiz Gonzaga em seu retorno para Santiago. Ele trabalha como representante da Valmet Máquinas Agrícolas e, por isso, faz da estrada o seu balcão de negócios, visitando todas as cidades da região em busca de produtores rurais dispostos a modernizar a sua propriedade. Ao contrário de muitos colegas, Eri visita desde o grande produtor ao pequeno, sem excessão. Ele sempre acreditou que não se pode ter preconceitos com ninguém seja, nos negócios, seja na vida social. E que as amizades representam muito na vida de um homem. Ao contornar o trevo, Eri avista um rapaz, um vendedor de laranjas que, à exemplo de seu ofício, veste-se de maneira humilde, calçando chinelo de dedos. Ele faz sinal pedindo carona. Eri pára o veículo e pergunta para o rapaz sobre o seu destino. "Bossoroca", ele responde. "Entra aí", oferece Eri.
Logo o humilde vendedor de laranjas conta para Eri que se desloca até São Luiz todos os dias para vender laranjas e ajudar no orçamento familiar. Fala bastante o menino, agradecendo pela carona e relatando que já estava há horas debaixo do sol quente esperando voltar para casa. Em seguida, o garoto indaga sobre a profissão de Eri. "Ah, somos colegas de profissão. Tu vende laranjas e eu vendo tratores", ele simplifica. O garoto se entusiasma. "Sabe, eu vendo laranjas num banco de São Luiz. Outro dia, após vender para o gerente, eu ouvi um senhor contando para ele que precisa comprar um trator. Eu o conheço. Posso levar o senhor lá", oferece o menino."É mesmo?", Eri se interessa. "Sim, a fazenda dele é um pouco adiante de Bossoroca. Eu levo o senhor lá". E assim, os dois rumam para a tal fazenda. Chegando lá, o menino bate palmas em frente à sede, chamando a atenção do proprietário. "Vamos passando", diz ele. Em seguida, Eri se apresenta e revela como tomou conhecimento de que aquele senhor estaria interessado num trator. "Sim, preciso comprar mesmo", ele confirma. E, assim, durante algum tempo negociam. Depois disso, os dois se despedem e Eri trata de deixar o jovem vendedor de laranjas em casa. Dias depois, o menino avista o carro de Eri estacionar em frente à sua humide residência. Ele vinha lhe trazer uma gratificação pela indicação do negócio. "Graças a ti eu consegui fechar esse negócio. Vim te agradecer". Naquele mesmo dia, Eri havia entregue o trator e outros equipamentos para o fazendeiro, num negócio que, na moeda de hoje, seria superior a R$ 100 mil. E que se não fosse ele ter oferecido carona para um simples vendedor de laranjas, de chinelo de dedos, não teria acontecido.