Minha amada virtual
Saíste sem direção, estava pensando na pessoa que o esperava por lá, mas tanta ansiedade não resultou em nada, mal sabia qual era o local combinado; se não fosse a ansiedade de Lucio, ele lembraria os detalhes onde Rosa estaria esperando por ele.
Lucio já não se interessava mais por ninguém já fazia uns dois anos e esse namoro pela internet lhe ressuscitou a lembrança de uma forte emoção vivida há tempos atrás, ressaltando as devidas diferenças porque sua relação anterior foi prazerosamente vivida “ao vivo”. Foi marcado o encontro tão aguardado e adiado várias vezes por questões levantadas por Rosa, que teimava em pedir mais vezes os encontros virtuais para se conhecerem melhor.
Ela pediu para esperá-la no jardim da fonte principal e não na entrada do parque, mas totalmente convicto, ficou de pé, ali, do lado do portão até que às dezenove horas o zelador fechou aqueles portões de ferro antigo assim como parecesse fechar seu coração para um novo amor!
Rosa já em casa, umas três horas, achou que Lúcio havia a enganado e uma nuvem de dúvidas também pairou sobre sua cabeça. Ela se perguntava: “Será que ele ficou inseguro? Será que me viu e me achou; feia! Ou será que... bem deixa pra lá.”
A partir daqueles dias, Lúcio e Rosa ficaram sem se comunicar, um deduzindo que o outro teria dado “fora”; Lúcio não mais navegou na internet para interagir com Rosa, ela ainda teimou em abrir seus arquivos onde estavam lindas poesias de amor declarado, mas isso só fez aumentar sua dor.
Os tristes dias destes dois se seguiram até que; Lucio voltando do trabalho, esmagado pelo tédio, sentou-se ao lado de uma linda jovem na lotação, percebeu rapidamente que se tratava de uma morena de olhos verdes, rosto bem desenhado e muito bonita, o fazendo recordar de uma modelo famosa que lhe chamava a atenção. Meio sem jeito, tentou ser simpático expressando um leve sorriso para ela, a moça toda séria, mas sem ser arrogante lhe disse um silencioso e breve oi.
Mal ele pensou em um diálogo (porque talvez pudesse encontrá-la mais vezes no caminho de volta) ela pediu licença, levantou-se para descer no ponto próximo, toda apressada parecendo estar atrasada.
Lucio olhou para o lado e percebeu que ela havia esquecido algo no banco, uma pequena bolsa, levantou-se repentinamente e apertou o sinal de parada, desceu da lotação e correu até o local onde a morena havia descido uns duzentos metros atrás, mas infelizmente ele não pôde finalizar seu gesto caridoso e um pouco interesseiro.
Chegando a casa, abriu a bolsa para localizar um número de telefone ou endereço e viu que dentro havia óculos, objetos para maquilagem, essas coisas que as mulheres habitualmente utilizam e vários papéis; no fundo achou um cartão impresso “Olivieri Imóveis”, “Elizandra R. Gorett – Corretora” com número de celular. Lucio não pensou duas vezes, apoderou-se de seu celular e ligou para o número do cartão, uma voz macia disse alô:
_ Oi quem fala? - Disse Lucio.
_ Com quem você gostaria? – Respondeu, cismada, pois seu celular não identificava o número do rapaz.
_ Sabe o que acontece?É que eu estou com uma bolsa com alguns papéis e objetos...
A moça interronpeu sua conversa!
_ Há, está com você?Eu esqueci na lotação, quanto vai querer para me devolver?!
_ Não!Não quero nada – disse Lucio surpreso – eu estava sentado do teu lado e vi quando deixou a bolsa do meu lado.
_ Desculpe meu jeito, estou nervosa, esses papéis são muito importantes para mim, onde você está? Onde você mora?Irei buscar.
_ Não se preocupe moça, levarei para você pessoalmente. – Lucio quis ser gentil percebendo o nervosismo da garota.
_ Não, não!Prefiro eu ir até aí, tudo bem? – Ela queria ter um mínimo de privacidade sendo que Lucio já estava de posse de alguns objetos pessoais dela.
_ Tudo bem!Prefere assim. – Lucio não queria forçar a barra e percebeu a desconfiança justificável dela, passou seu endereço e disse que poderia ir buscar naquele momento se quisesse.
Já era quase vinte horas quando tocara a campainha, Lucio todo afoito foi receber a visita que na verdade não era bem uma visita, diga-se de passagem. Ao abrir a porta, deparou-se com Elizandra, cabelo solto e semblante pálido, ela estava envergonhada.
Elizandra logo se apresentou:
_ Oi, como vai? Sou Elizandra, a dona da bolsa, você é...
_ Desculpe, nem mesmo dei meu nome pelo celular; prazer sou Lucio. Fique a vontade.
Por um breve instante, a garota ficou estática olhando para Lucio, ele curioso, questionou:
_ Aconteceu algo?
_ É que seu nome é familiar para mim!
_ É? Legal! – Respondeu o rapaz no mesmo instante que pedia para ela entrar. Elizandra titubeou e entrou na sala, ficando um pouco desconfortável pela situação.
Lucio disse a ela que estava morando sozinho por uns tempos, precisou mudar de cidade devido ao trabalho, mas ele percebeu que Elizandra não estava nem um pouco interessada em seus assuntos.
_ Bem! Vamos ao que interessa. – disse lhe desconfortavelmente.
_ Então meus pertences estão com você?
_ Sim, vou apanhá-los, só um minutinho!
_ Faça o favor, esses papéis são muito importantes. – Elizandra, apanhando das mãos suadas e trêmula do rapaz disse que ela estava em seu primeiro dia de emprego, aqueles documentos era sua primeira proposta de venda de um imóvel.
Todo orgulhoso por ter ajudado, o “nobre” rapaz lhe ofereceu sua boa amizade:
_ Sem querer ser um chato, gostaria de encontrá-la outras vezes para a gente serem amigos, estou aqui nesta cidade já faz onze meses e não conheço quase ninguém.
Elizandra comovida até certo ponto com Lucio e tendo a consciência que sua beleza atípica despertava nos homens muita atenção, aceitou suas palavras.
_ Tudo bem! Que tal sábado, no Parque da Fonte. – Disse lhe sem demonstrar entusiasmo ou interesse.
Mas... Lucio relembrou: Parque, flores, jardins, rosas e Rosa, sua amada virtual; de novo será?
Pensou negativamente, na situação que passara alguns dias, na desilusão vivida ou nas desilusões vividas. Seu pensamento se firmou na beleza da morena, agora seria diferente, refletiu. Depois de um breve silêncio de seus lábios, ele disse:
_ Ótimo! Sábado no parque. – Respondeu Lucio, não demonstrando desacordo.
Dirigiram-se para varanda, ao sair, Elizandra muito observadora, notou algo que lhe chamou a atenção e foi quando tudo realmente se transformou. Na mesa de centro da sala, com a tela voltada para cozinha (por isso que ela não viu quando entrou), estava o Laptop de Lucio ligado, o mesmo estava com a proteção de tela ativa que passava a seguinte frase: “Mesmo não te conhecendo, eu já posso sentir o seu amor”. Elizandra sem rodeios foi logo perguntando:
_ Que frase é essa?!
_ Frase, que frase? – Atônito, devolve Lucio.
_ Aí, no seu laptop.
_ Sei; é uma longa história que prefiro não dizer, me perdoe!
_ Essa frase eu conheço, essa frase é minha, bem... Eu acho.
_Como assim? Sua.
_ É, eu mandei para uma pessoa muito querida, mas não... - Elizandra calou-se, olhou Lucio do pé a cabeça, seus olhos encheram de lágrimas, seu coração parecia não mais bater e gaguejando disse:
_ Lucio? É você Lucio?Como pôde fazer isso comigo?!
_ Lucio não entendia mais nada, porque Elizandra o tratava assim, com repúdio e raiva tão repentina.
_ Você não está me conhecendo ou está fingindo que não? – Disse Elizandra – Sou eu, Rosa!
Lucio desmontou, foi como se paraíso e inferno estivessem ali, percebeu que Elizandra era Rosa, a sua amada virtual o qual dispôs muito tempo na internet entregue a ela, por vários meses, louco para conhecê-la e começar um romance que daria outra esperança em sua vida tão conturbada por situações tristes. Agora estava ele lá, na frente dela, sem saber ao certo o que dizer a moça linda, educadíssima e séria.
_ Mas Rosa ou Elizandra? Não entendi nada! – Disse.
_ Rosa é meu prenome, mas nunca fui mentirosa sobre minha personalidade.
_ Muito bem! Fui feito de trouxa duas vezes; uma é que “falava” com Elizandra, mas falava com Rosa e a outra foi eu ficar esperando por horas no portão do parque e nada! – Esbravejou magoadamente.
_ Portão do parque? Mas quem lhe disse portão de parque? Eu lhe enviei a mensagem dizendo que era pra me esperar no jardim da fonte. – Respondeu a garota.
_ Nossa! Que furo! – Lucio não sabia onde olhar, queria que a terra se abrisse naquele instante e o tragasse para dentro, sem ter outra solução, pediu perdão a Elizandra falando que estava muito ansioso no dia para vê-la e esqueceu-se do local combinado, disse que apostaria tudo neste relacionamento mesmo não a conhecendo pessoalmente, nem queria saber de sua beleza física, mas sim da sinceridade de suas palavras enviadas pela rede de relacionamentos.
Elizandra pesando todos os prós e contra percebeu que Lucio estava falando a verdade e num momento, daqueles raros vividos por uma pessoa, ela com todo encantamento que vinha sentindo nesses meses de namoro virtual, atirou-se nos braços do rapaz. Acabaram-se num beijo que há meses desejavam e por muito pouco não aconteceu!
Por isso, é certa, a ansiedade pode fazer da gente escravos dela, deixando de viver muitos momentos como devem ser vividos. O destino trouxe para Lucio uma nova oportunidade de ser feliz, não deixe que sentimentos como ansiedade, angústia e medos faça você perder partes felizes de sua vida; o destino pode não lhe dar outra oportunidade!
Fim
Becalete
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