Flor, prazer, dinheiro e morte
Agora todo seu império desmoronava sob seus pés. E qualquer coisa que ela fizesse para impedir, apenas a arrastava rapidamente para baixo.
Ela ainda conseguia lembrar-se da primeira vez que o viu. Ele era um rapaz atraente, bonito. Na força dos seus dezessete anos, fez seu coração palpitar, mesmo já sendo uma mulher vivida. Os primeiros meses de convivência naquela casa tão cheia, com tantos olheiros, oportunizaram o clima perfeito para o romance que estava tendo início. A paquera velada, os beijos furtivos, o primeiro sexo às pressas e as escondidas deixaram-na completamente apaixonada.
Como ele poderia ter se transformado naquele homem controlador? Quando foi que ela havia se transformado da deliciosa paixão da adolescência, em uma galinha dos ovos de ouro?
Flor sacudiu a cabeça tentando afastar aqueles pensamentos. Nada daquilo importava agora. Tudo que ela tinha em mente, era saber como se livraria daquele encosto que havia arrastado para sua vida. Ela penara muito para construir um verdadeiro império e não permitiria que seu marido, alguém que ela mesma havia forjado, a controlasse daquela maneira. Ela faria tudo que estivesse ao seu alcance para tomar o controle sobre seus negócios e finanças.
É certo que ele era parte de toda aquela trajetória, mas ela era o centro. E ele tinha consciência disso, mas tinha consciência também do poder que exercia sobre ela. Afinal, a enredara da forma que qualquer mulher, por mais forte que seja, não tem muita resistência, na cama. O que ele não sabia é que para algumas mulheres, o bolso está acima do prazer. Este era seu ponto fraco.
Flor respirou fundo, sentindo o peso da responsabilidade sobre os ombros. Ela estava diante de uma encruzilhada crucial, onde as decisões tomadas moldariam não apenas seu futuro, mas também o destino de toda a família. Enquanto refletia sobre os últimos anos, ficava cada vez mais claro como a ganância do marido corroeram lentamente os alicerces do relacionamento e consequentemente, da família.
Desde o início, ela havia sido cativada pela sedução daquele garoto com sorriso doce e olhar perdido, mas logo percebeu que por trás da máscara de encanto, existia uma ânsia insaciável por controle e poder. Ele usava a influência que exercia sobre ela para manipular e controlar cada passo, transformando o amor que uma vez os unira em uma miragem distante.
A avidez do marido transparecia em cada comando proferido, enxergando em tudo um investimento, enquanto ela se via reduzida a mera moeda de troca em suas mãos ávidas. Transformara-se num magnata dos negócios, um homem de semblante falso, destituído de escrúpulos, alheio às consequências nefastas que seus atos acarretavam à família. Pronto a sacrificar tudo em nome de uma ganância insaciável, inclusive a estabilidade e o bem-estar daqueles que deveriam ser-lhe mais caros.
Flor encontrou-se aprisionada num ciclo vicioso de decadência e desespero, batalhando para sustentar as aparências perante a sociedade, mesmo quando os fundamentos da vida familiar ruíam ao seu redor. Tardia foi a percepção de que o marido não nutria amor por ela, mas sim por aquilo que ela representava: um ativo financeiro e um pedestal de status social.
Ao passo que a ganância o devorava e guiava cada um de seus passos, ele distanciava-se cada vez mais, envolto em indiferença, deixando para trás um rastro de ruína e desolação. Os conflitos tornaram-se constantes, as mentiras se multiplicaram e a confiança se dissipou como fumaça ao vento.
Flor não podia mais permitir que essa espiral descendente continuasse. Ela estava determinada a romper as correntes que a prendiam a esse homem sem escrúpulos e restaurar a dignidade e a paz em sua vida e na vida de seus filhos. Era hora de agir, antes que a avareza e ganância destruíssem completamente tudo o que ela havia construído com tanto esforço e sacrifício. Mas como? O divórcio seria um escândalo, desestabilizaria toda aquela aparência de família tradicional perfeita que eles haviam criado e que era a logomarca do seu negócio. Isso jamais! Divórcio não estava em seus planos.
Enquanto o turbilhão de pensamentos lhe dominava, Flor não podia mais fugir à cruel realidade: ela se tornara alvo da cobiça do homem que um dia amou, e era imperativo agir para encerrar esse tormento e escapar das garras daquele empresário implacável e controlador. A voracidade com que ele conduzia seus negócios não conhecia limites, e ela compreendia que precisava agir antes que ele sugasse até o último resquício de sua fortuna. Sem dar-se conta, ela mesma encontrava-se imersa na teia da ganância, e a cada passo avançava rumo à própria ruína, enredada em um anseio insaciável pelo poder.
Já havia decidido o que fazer. Impulsionada por todo o ódio que nutria, a morte do marido surgia como única saída viável, uma decisão tomada com firmeza, pois era essa a maneira de romper de forma definitiva com uma relação que se transformara em um verdadeiro pesadelo.
Enquanto elaborava meticulosamente seu plano, Flor percebeu que não poderia realizar a tarefa por si só. Recorrendo à confiança dos próprios filhos, ela os convenceu sutilmente da necessidade de libertarem a família da tirania do padrasto. Sussurrou-lhes palavras carregadas de manipulação, envolvendo-os em um manto de lealdade distorcida, até que aceitassem a ideia de que a morte do padrasto era a única solução para a paz da família.
Após cuidadosos preparativos, o fatídico dia chegou. Flor conduziu seus filhos na execução do plano, instruindo-os a forjar um assalto, encenando um teatro de horror e desespero. Com lágrimas falsas de uma viúva enlutada, ela fingiu uma dor dilacerante diante do corpo sem vida de seu marido, um desempenho digno de uma atriz consumada com o prêmio máster do cinema.
No cemitério, Flor mergulhou em um luto encenado, curvada sob o sentimento de um pesar nada genuíno. Seu pranto ecoava entre as lápides, enquanto os espectadores, ignorantes da verdade, ofereciam condolências e olhares compungidos. Por trás da máscara de dor, ela sorria aliviada, sabendo que seu plano havia sido executado com perfeição, certa de que daquele momento em diante estaria livre para traçar seu próprio destino.