Madona chorou
Ela era verdadeiramente bela. Olhos intensos, verdes, como as águas do mar do Caribe. Pelagem fina, macia, camurça, feito cetim, reluzia à luz dos raios do sol do outono. Uma pantera. Ficava sempre ali, na grade enferrujada, à espera de um bom dia, um carinho, uma conversa amiga. E era correspondida. Dona Chiquita a cobria de cuidados. Dava-lhe pitangas maduras na boca. Sua filha lhe repreendia:-- você não tem mesmo jeito, não viu na TV a mulher que ficou sem um dos braços com a mordida de um Pit Bull ?– Qual nada, ela nem ligava, continuava com sua profunda amizade com o querido animal. E o amor era recíproco! Excelente guardiã, Madona cuidava da casa de sua amiga com devoção e lealdade. Não deixava ninguém se aproximar!
Era a primeira vez que voltávamos à sua casa, numa tarde chuvosa, fria .... o quintal estava amplo, limpo, sem os rastros de seu amor. Tudo ali transpirava saudades... Madona nos ouviu chegar. Havia um coro desafinado no pranto de todas nós. Nenhum latido. Nenhum balançar de rabo. Apenas lágrimas quentes em seus olhos companheiros....
Benvinda Palma
Publicada no Recanto em 04/06/2010. Titulo original: A melhor amiga.