Egoísmo no trabalho
Júlia é enfermeira, trabalha em uma UBS na periferia. Ela é um pouco introvertida, mas é muito atenciosa com os pacientes, faz tudo ao seu alcance para atendê-los bem. Além disso, é muito prestativa, sempre ajuda as amigas com as quais trabalha, Camila, Felícia e Anita a organizarem os recursos que serão usados nas palestras, pois todo mês elas visitam as escolas, desenvolvendo projetos sobre drogas, DSTs, gravidez na adolescência, ansiedade etc.
Júlia, sempre ajudou Felícia, Camila e Anita, gastando muito do seu tempo, confeccionando material, preparando slides, panfletos e, infelizmente, suas amigas não demonstraram gratidão, raramente falavam um obrigada. Pior ainda, no momento de proferir as palestras, ela era sempre excluída pelas supostas “amigas!”, que apenas queriam levar vantagem, ganhar todo mérito pelo trabalho. As colegas assumiam o controle de todas as apresentações, sempre procuravam descartá-la, como se Júlia não fizesse nada.
Diante disso, o trabalho de Júlia não era visto. Por fim, ela teve uma brilhante ideia e, foi compartilhar com a Enfermeira-Chefe da UBS. Ela disse para Rute:
- Quero confeccionar uma cartilha sobre o nosso projeto, o que você acha?
- Legal, Júlia! Pode fazer, você tem meu apoio.
A partir de então, Júlia trabalhou incansavelmente na produção da cartilha. Ela convidou Camila para somar com esse projeto, pois, às vezes, esta também era excluída pelas colegas, mesmo contribuindo bastante, ajudando sempre que era solicitada.
Camila agregou muito, as atribuições eram divididas. Enfim, a cartilha ficou pronta. Quando Felícia e Anita souberam, ficaram muito chateadas. Felícia foi atrás de Júlia e falou:
- Fiquei sabendo que você e Camila organizaram uma cartilha. Você pode colocar meu nome?
- A cartilha já está pronta há muito tempo, já foi concluída, inclusive já está na gráfica. Não falei com você e Anita porque estavam atarefadíssimas com outros projetos.
Júlia é meio passiva, sempre teve dificuldades para dizer não, defender-se e argumentar. Sempre era apenas usada pelas colegas e descartada. Lembrou que o foco das meninas é a busca constante e excessiva de atenção, sempre querem ser o centro de tudo. Então Júlia respirou fundo, infundiu-se de coragem e manteve sua palavra anterior.
- Não, Felícia, a cartilha está pronta e, você não contribuiu. Engraçado, eu ajudo nos teus projetos, você não agradece e sempre me exclui das palestras. E agora, quer que eu coloque o seu nome na cartilha que você não contribuiu de nenhuma forma? Sinto muito, não posso!
Camila concordou com a decisão da amiga, pois era inviável colocar o nome de quem não contribuiu com o trabalho.
A Secretaria de Saúde aplaudiu essa iniciativa, gostou da cartilha, motivo pelo qual aumentou ainda mais a raiva de Felícia.
Felícia parou de falar com Júlia, nem mesmo responde um cumprimento de bom dia. Quando a vê, ignora, às vezes, faz pirraça, age friamente e tenta influenciar outras colegas de trabalho e pacientes a adotarem seu proceder frio e indiferente. Enfim, considera Júlia como inimiga, como se tivesse cometido algum crime.
Assim, depois da divulgação e publicação da cartilha, a convivência nesse posto de saúde era muito tensa, foi um martírio, simplesmente porque Júlia teve a coragem de dizer não, não aceitou mais viver em prol somente de satisfazer as colegas e dizer amém para tudo.
Finalmente, resolveu seguir suas ideias e caminhar com seus próprios “pés”, embora isso tenha lhe custado muito caro... A situação estava muito complicada e Júlia pediu transferência para outra UBS, pois ela queria ter paz no ambiente de trabalho.