TERMINAL DO TIETÊ
Meu companheiro e eu íamos muitas vezes a São Paulo logo depois de casados. Como ainda estávamos investindo no apartamento onde morávamos, preferíamos viajar de ônibus para poupar algum dinheiro a fim de terminar de mobiliar o imóvel e pagar algumas contas pendentes.
A viagem de ônibus de Curitiba para São Paulo dura, em média, 6 horas de longo e cansativo trajeto. Ir de carro ou de avião não estava nos planos por serem opções mais caras. Viajávamos pela Viação Cometa ou pela Penha. Chegando ao Terminal Tietê, evitávamos pegar um táxi porque ficaríamos hospedados em lugar distante, no apartamento de minha sogra. A despesa não cabia em nosso orçamento.
Claro, levávamos cada um uma mala, não muito pequena, eu ainda carregava uma bolsa de mão com apetrechos de higiene pessoal e um casaquinho para me proteger do frio ar condicionado. Descíamos do ônibus e nos dirigíamos à Estação Tietê do Metrô. Era assustadora a multidão que desembarcava, bem como a outra que ia pegar o trem. Praticamente não andávamos, éramos empurrados. Imaginem isso puxando malas. Eu pensava: - Se cair aqui, serei pisoteada...hoje deve estar muito pior. Como ambos trabalhávamos, tínhamos que aproveitar feriados prolongados, daí o motivo de tanta gente viajando.
Éramos mais jovens e, reconheço, bastante destemidos. Pior ainda era na Estação da Sé onde descíamos para pegar o trem da linha Barra Funda. Ali é que a multidão atemorizava pois não temos nada parecido em Curitiba. Mantinhamos atenção redobrada com a malas, os bolsos e nossa integridade pessoal. Lembro de uma frase de Raimundo Faoro, que li em um de seus livros: “Detesto as multidões, não só pelo mau cheiro que elas exalam, mas também por sua ignorância maciça.”
Enfim, chegávamos, depois dessa epopeia à Estação Marechal Deodoro, onde o estimado cunhado Cândido nos esperava no alto da escada rolante, na saída para a Rua Albuquerque Lins, onde ficaríamos, e nos ajudava a carregar a bagagem. Minha memória guarda a imagem daquele grande painel da Estação onde está gravada com arte a Déclaration des Droits de L'Homme et du Citoyen.
É tão gratificante lembrar desses tempos de planos de vida em comum, de nossa determinação e esforço para poupar os salários a fim de construir estabilidade e conforto para a vida futura.
Nada disso vai se repetir. Todas aquelas pessoas que nos acolhiam com carinho no apartamento onde ficávamos hospedados, já faleceram, inclusive meu companheiro. Não quero fazer deste um relato melancólico. Tenho noção, hoje, de como foram bons, proveitosos e felizes aqueles anos. Sei que não vão se repetir, porém posso guardá-los como saudosa lembrança em meu agradecido coração, pela vida plena e repleta de histórias para contar.