Faz frio, ou calor?
Era uma vez...
Samantha, moça na primavera dos seus dezoito anos, morena cor de jambo, de olhos amendoados, lábios sedutores, cintura de vespa, quadris de tanajura, cabeleira a encachoeirar-se pelos ombros estreitos, pernas bem esculpidas, de um corpo, enfim, divino - que me desculpem a ousadia.
Naquele dia, de temperatura de congelar pinguim, saiu a beldade, às oito da manhã, da sua casa. A sua indumentária, a de uma nativa pré-cabralina; não digo que ela estava nua, inteiramente nua, como a natureza a deu ao mundo, porque cobria-lhe os pés mimosos chinelos-de-dedos, o quadril uma faixa de pano que atende pelo nome de shorts, e o busto generoso uma tira de tecido diáfano, e as orelhas brincos multicoloridos. Cruzou o caminho de Beatriz, sua amiga, que, assim que deteve nela os olhos, esgazeou-os a ponto de arremessá-los para fora das órbitas e, com voz e palavras que lhe traíam a surpresa involuntária, exclamou:
- Sam, meu Deus! Você está no Saara!? Nossa! Eu, a tremer de frio, e você...
- Oi, Bia. Meu corpo não reage ao clima segundo as leis da natureza.
- Sei... Exibida.
E Samantha e Beatriz rumaram, juntas, ao mercadinho.