A PERSONAGEM - (dedicado à poetisa Luna Mia)
Luna acordou meio perdida, já interpretara tantos papéis em sua vida, que às vezes nem tinha noção de onde estava, quem era, em que época, se era bicho ou gente, se estava viva ou até mesmo morta. Aff! Que loucura andava vivendo nos últimos anos.
Certa vez estava num filme, como dançarina num sallon, em pleno velho Oeste, poucas horas depois, estava com uma fantasia de galinha, cacarejando e dando uma dura num galo abusado. Foi dormir lá pelas tantas, com insônia de coruja. Levantou meio trôpega, com suas meias coloridas, acabou escorregando no piso e, deu com o bumbum no chão. Não doeu e lhe propiciou boas risadas. Tomou um comprimido pra relaxar, um châ quentinho, mas, pouco depois acordou sobressaltada, se batendo na cama, como se alguém a estivesse torturando. Acordou num pulo e, lembrou que na peça de teatro, para a qual estava ensaiando, a sua personagem, sofria demais. Meu Deus! Estava ficando doida de tanto trabalho.
Quando o relógio marcou sete da manhã, sua empresária Cris, já estava no meio da sala, com um batalhão de pessoas, maquiador, manicure, cabeleireiro, personal stylist, fonoaudiólogo e a nutricionista, enlouquecendo a sua cozinheira. Vida de artista não é fácil!
Luna tinha a gravação de um clipe, para compor algumas cenas, do novo dvd de um cantor famoso. Na opinião dela 'famoso quem?' Mal tinha tempo, para assistir as próprias cenas, que dirá saber quem o rapaz era, tadinho...
Pediu um tempo no final do mês, mas, a empresária lhe negou veementemente, pois a sua agenda estava lotada de compromissos.
Luna foi dormir absurdamente cansada, mas, acordou meia hora depois de ter apoiado a cabeça, sobre o travesseiro. Deu um pulo, arrumou a mala maior, com o básico para uma temporada na praia, colocou uns agasalhos, sandália, sapato, tênis e a pantufa preferida. Tomou um banho rápido, vestiu moletom e boné, pegou o dinheiro vivo que tinha no cofre, documentos, passaporte e, um cartão desbloqueado, que nunca tinha utilizado, deixou um bilhete para a empresária, sobre o próprio celular, do tipo Fui! Até breve.
Chamou um carro de aplicativo, em direção ao aeroporto. Dormiu lindamente no avião, aterrissou na França, seguiu até uma pousada simples, juntinho à uma praia meio escondida, fez uma refeição farta e deliciosa, sem restrições, só aproveitando o prazer do sabor. Colocou um maiô discreto, amarrou a canga na cintura, um belo chapéu. Pediu na cozinha água, frutas e um belo sanduíche de queijo.
Um dos empregados, colocou perto do mar, uma espreguiçadeira e abriu um guarda Sol pra ela. Luna tirou a canga e os chinelos, mergulhou e emergiu como Luna, plena, em paz e depois de incontáveis anos, apenas Luna...inteiramente só dela. Dona de si, pura e simplesmente.