Faz calor, ou frio?
Era uma vez...
João Cascudo, descendente dos neanderthais, homem de meia idade (e o que eu quero dizer ao dá-lo de meia-idade, não sei), de estatura mediana, barriga pronunciada, de poucos fios de cabelos espalhados pela cabeça razoavelmente agigantada. Num dia de sol de rachar a cabeça de todo filho de Deus, saiu à rua com indumentária típica dos esquimós. Abordou-o Paulo, seu vizinho, que, ao vê-lo, perguntou-se, divertido com a figura bizarra dele, o que lhe ia na cabeça:
- Ô, casca grossa, você está no Pólo Norte?
- Não, songomongo; estou no Pólo Sul - replicou João, sério e sorridente, carrancudo e jocoso.
- E tem pinguim aí, ô, picolé? - persistiu Paulo, zombeteiro, a rir, agora com mais liberdade, de seu amigo.
- 'tô com frio, ô, diabos!
- Frio!? Você está doente!?
- Doente, ou não, hoje estou com frio. Não sei o que me acontece hoje. Tão logo acordei, desci da cama; ao pôr os pés no chão, tremi, e dos pés à cabeça, de frio, de frio dos infernos.
- Dos infernos!? Dos infernos!? E há frio no inferno!?
- Quem sabe?!
E João e Paulo seguiram, juntos, até a padaria.