Depois que você partiu...

Hoje, talvez por iniciar os meus estudos de psicanálise e me autoanalisar, talvez pela saudade imensa que sinto ou talvez querendo demonstrar a minha solidariedade a quem sofre; resolvi finalmente expressar o tempo e os sentimentos em palavras escritas.

 

Dessa vez não permitirei que o descontrole emocional tome conta das minhas ações, não irei mais chorar compulsivamente porque agora não se trata mais de uma dedicatória de TCC-trabalho de conclusão de curso - trata-se exclusivamente de vida e sentimento, a linda conexão entre eu e você.

 

Depois que você partiu tudo ficou tão confuso ...Uma sensação estranha como se estruturas de concretos de uma casa do nada rachassem e desabassem sobre o meu corpo fraco.

 

Eu não era a única pessoa a habitar a casa, então, optei por retirar os escombros e resgatar cada um dos sobreviventes. Pena que nessa de bancar a heroína, esqueci que eu também precisava ser socorrida!

Noticiar a sua partida foi uma tarefa árdua; separar os seus pertences foi pior ainda.

 

Necessitei forçosamente recolher e esconder as minhas lágrimas, era importante reconstruir a casa para os demais sobreviventes, mas muitos não entenderam essa minha escolha e como para o ser humano é mais fácil julgar do que compreender, fui colocada à julgamento por diversas vezes!

 

Depois de conseguir reconstruir a casa, minha força estava abalada , minha mente pedia descanso e meu coração apresentava rachaduras.

Eu não era mais coragem; eu não era mais força; eu não era mais determinação; eu não era mais orgulho; eu não era mais sonhadora; eu não era mais eu!

 

Perdi o controle de mim mesma, não vislumbrava mais nenhuma direção, precisava sair daquele caminho mesmo que fosse à contramão.

Milhões de destinos a escolher mas nenhum deles a interessar, afinal de contas, em qualquer um deles faltaria você!

 

A solução, então , seria ter partido no seu lugar, mas como fazer isso se Deus é quem escolhe a hora de ir e ficar?

Perdi a esperança, sem a sua presença não enxergava mais o mundo com os olhos inocentes de uma criança.

 

Tudo era tão triste, sentia falta de você na hora do café da manhã, na hora do almoço...

Reunião em família? Nem pensar, o meu coração machucado não iria aguentar!

E assim naturalmente, a minha ausência justificando a sua ausência se fez presente.

 

Em uma fuga mental desconsertadamente planejada, eu me casei, construí um lar e me profissionalizei principalmente em resolver problemas de orgulho -ferido dos outros. Hoje percebo que foi a maneira nefasta que eu encontrei para distanciar a minha saudade e esconder o meu sentimento de amor genuíno.

 

Foram dolorosos anos até eu perceber que somos conectados muito além da vida e essa percepção foi um presente que me fez reviver.

Revivi porque descobri que o amor verdadeiro não morre, permanece vivo por toda a nossa existência e somente ele é capaz de vencer a dor, a tristeza, a ausência, a ira, a mágoa, o rancor.

 

E assim seguiu a minha vida...

Exatamente um ano e quatro meses após a sua partida, fui surpreendida por um amor totalmente improvável, uma presença masculina que eu acreditei não combinar com os planos que eu fazia na adolescência:

 

-Ele não era alto, ele não era magro, ele não tinha feito faculdade, ele não tinha o costume de viajar, ele não sabia cozinhar, ele tinha dois filhos, ele era tímido, ele não expressava sentimentos e sua alegria era o rock e o vídeo game.

 

Achei graça quando ele disse estar apaixonado por mim logo no nosso primeiro encontro, então, querendo testar essa “paixonite aguda”, resolvi embarcar no que tudo indicava ser uma “canoa furada”.

 

Dezesseis anos se passaram, durante esse interregno de tempo, posso afirmar aprendi que nada, absolutamente nada nessa vida faz parte do acaso, mesmo a dor e o sofrimento são necessários para a nossa evolução.

 

Querido pai, hoje estou com 39 anos, 15 anos de casada, uma filha com 10 anos e dois cachorros. Buscando autoconhecimento fiz um curso de Psicanálise e atualmente escrevo livros digitais.

 

Permaneço sentindo a sua falta, mas, tudo bem, sei que um dia iremos nos reencontrar.

 

 

 

 

 
Cynthia Pola Miashiro
Enviado por Cynthia Pola Miashiro em 17/06/2021
Reeditado em 28/04/2024
Código do texto: T7280737
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